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Estado de Minas

Setor de serviço cresce 0,7% em Minas, bem abaixo da média nacional

Receita do setor registra expansão de apenas 5,7% em junho frente a igual período de 2013. Foi a menor alta desde o início da série histórica do IBGE.


postado em 20/08/2014 06:00 / atualizado em 20/08/2014 07:14

A desaceleração no comércio e o freio na indústria estão refletindo no setor de serviços. Com participação de quase 70% no Produto Interno Bruto (PIB) do país, o segmento registrou em junho a menor variação em sua receita nominal desde o início da série histórica iniciada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2012: a alta foi de apenas 5,7% frente a igual mês de 2013. No ano, a receita dos serviços acumula aumento de 7,4% e, em 12 meses, de 8%. Esses são também os índices mais baixos do levantamento na comparação aos idênticos períodos do ano anterior. A desaceleração foi ainda mais forte em Minas Gerais. No estado, junho fechou com alta de 0,7% na receita em relação ao mesmo mês do ano passado, ficando bem abaixo da média nacional.

Até mesmo os serviços prestados às famílias, como alojamento e alimentação, de manutenção diversos, cabeleireiros, entre outros, mostram queda. No acumulado do ano o indicador que apresentou alta no país de 12% em janeiro, crescendo para 13,1% em fevereiro, fechou junho em 11,5%. Os resultados do segmento são preocupantes. O economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) Fábio Bentes diz que o setor vem sendo pressionado pela inflação alta. Para ele, os índices que ainda refletem números melhores estão atrelados ao desempenho do mercado de trabalho. “O resultado é muito ruim. O setor tem grande peso na economia e apresentou queda real no semestre de 1,3%. Se deflacionado pela inflação de serviços (8,2% em junho) o dado nominal de avanço de 5,7% no mês mostra queda real de 3,5%”, aponta.

Vinorley Silva com a mulher, Renilde e o filho Bruno: economia as idas ao cinema (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Vinorley Silva com a mulher, Renilde e o filho Bruno: economia as idas ao cinema (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Fugindo da inflação, seja no supermercado ou nos momentos de lazer, o casal formado pela dona de casa Renilde Souza e o administrador de empresas Vinorley da Silva está sentindo a pressão dos custos e para isso faz ajustes no orçamento. Mãe de Bruno, de 8 anos, e Emily, de 6, Renilde diz que costumava levar as crianças ao cinema até quatro vezes ao mês. “Reduzi para no máximo duas vezes.” Ela conta que também está frequentando menos restaurantes e lanchonetes para economizar. Vinorley afirma que este ano sentiu que as despesas apertaram no segmento de serviços e para isso a família está planejando muito bem as férias, ficando menos dias em hotéis. “Estamos praticando o turismo familiar, ou seja, trocamos o hotel pela casa da avó ou de parentes”, revela. E não é só isso. Vinorley diz que até o corte de cabelo registrou alta de R$ 20 para R$ 25 entre janeiro e julho. “Ao ano, a alta significa R$ 60 a mais, ou três cortes no preço antigo”, observa.

No país, a queda da receita dos serviços em junho foi puxada pelos segmentos de transportes e correios (- 4,7%), que reverteu a alta registrada em maio, de 1,5%. No comparativo anual, os segmentos com as maiores taxas foram os voltados às famílias 11,1% e os serviços profissionais, administrativos e complementares (7,3%). Em Minas Gerais, os serviços de informação e comunicação puxaram a queda do setor, com retração de 4,7% em junho frente a igual período em 2013. Na mesma base de comparação, o setor de transportes teve alta de 3,3% – a menor da série histórica – e os serviços prestados às famílias também cresceram menos que a média nacional, 9,8%. “Junho foi um mês de negócios fracos e desaceleração produtiva, o que reflete no setor de serviços”, explica o pesquisador do IBGE Roberto Saldanha.

ADEQUAÇÃO O empresário que atua no segmento de informática Sânzio Amora, vive em João Monlevade com a família. Ele diz que o consumo de serviços em sua casa foi reduzido. Ele conta que as viagens a Belo Horizonte para passeio com os três filhos no shopping center, por exemplo, caiu de três vezes para uma vez ao mês. “São medidas para adequar o orçamento.” Na outra ponta, Sânzio também sentiu a redução da demanda em seu setor no semestre, tanto na prestação de serviços como na venda de artigos para informática no varejo.

Sânzio Amora diminuiu o ritmo das viagens de João Monlevade a Belo Horizonte (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
Sânzio Amora diminuiu o ritmo das viagens de João Monlevade a Belo Horizonte (foto: Ramon Lisboa/EM/D.A Press)
O freio do setor de transportes apontado pelo IBGE já está sendo observado por quem trabalha na área. O presidente da Federação das Empresas do transporte de Cargas de Minas Gerais (Fetcemg), Vander Francisco Costa, diz que a desaceleração vem sendo percebida pelo segmento de maneira variada ao longo do semestre e também em junho. “Houve queda nas cargas fracionadas de pequenos volumes para o varejo, o que reflete a queda no comércio. Houve retração ainda mais forte no transporte de minério e siderurgia. A demanda mais firme foi a do agronegócio.”

Fábio Bentes lembra que o primeiro semestre de 2013 já não havia crescido frente ao de 2012 e os resultados reais preocupam. Apesar da diminuição da alta na receita dos serviços prestados às famílias, o economista observa que o resultado não está tão ruim, se comparado à receita dos serviços ligados a investimentos. “Com a baixa nos resultados do comércio e da indústria há uma queda na confiança para se fazer investimentos.”

Pesquisa do instituto Data Popular destaca que para 69% da classe média brasileira está difícil pagar as contas e 89% da classe C afirmam que não conseguem comprar hoje o que adquiriam no ano passado, gastando o mesmo valor.

Empregos na corda-bamba

Brasília – O mercado financeiro voltará todas as atenções para a divulgação, prevista para amanhã, do mais recente Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), preparado pelo Ministério do Trabalho e Emprego. O último levantamento, feito em junho, aterrorizou o governo, ao mostrar que, descontadas as demissões, as contratações com carteira assinada somaram 25,3 mil postos de trabalho — o pior saldo para o mês em 16 anos. Para julho, as previsões são ainda piores. O Bradesco prevê saldo líquido de 20 mil vagas. O Banco Indusval, de apenas 7 mil. Nada comparável, entretanto, ao cenário sombrio traçado pelo Itaú Unibanco. O maior banco privado do país calcula que a geração líquida de empregos em julho foi de apenas 2,5 mil postos de trabalho, resultado 10 vezes menor que o de junho.

É ainda mais preocupante observar que julho é considerado um bom mês para o mercado de trabalho. Dessa forma, ao excluir da conta fatores sazonais, o mercado financeiro entende que os números do emprego possam ser ainda mais frustrantes do que possam parecer à primeira vista.

O Itaú acredita que, em vez de contratação líquidas, o saldo do mercado de trabalho em julho foi negativo em 4 mil postos. Em bom português, significa dizer que 4 mil trabalhadores passaram a frequentar as filas de desemprego. “Se estivermos corretos nas nossas contas”, escreveram os economistas do banco, “o ritmo médio de criação de emprego dos últimos três meses, de acordo com dados dessazonalizado, seria negativo em 10 mil postos de trabalho”, escreveram os técnicos, em relatório assinado pelo economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn.

É um cenário bem diferente do que o país viveu até recentemente. “Se você comparar o nível de empregos criados durante o período que a economia crescia a taxas superiores a 3% ou 4% ao ano, durante o governo Lula, os resultados do Caged eram bem mais intensos”, disse o economista-chefe da INVX Global Asset, Eduardo Velho. “A cada mês, a geração líquida de vagas ultrapassava os 190 mil, 200 mil novos postos de trabalho”, assinalou. “Hoje, o mercado de trabalho vive uma fase de vacas magras.”

A desaceleração econômica explica parte dessa piora. Diante de uma economia que há três anos cresce, em média, 2%, o mercado esfriou. A expectativa do mercado financeiro é que o Produto Interno Bruto (PIB) avance apenas 0,79% este ano, o que afeta ainda mais os já parcos resultados do emprego. O setor industrial, que há três meses mais demite que contrata, é um dos mais afetados pela retração da economia.


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