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Estado de Minas

Juiz federal dos EUA convoca audiência entre governo argentino e fundos

País, que não admite calote aos credores, ganha nova oportunidade de pagar dívida


postado em 01/08/2014 06:00 / atualizado em 01/08/2014 07:55

"Temos que defender nossos interesses. Querem inventar uma nova categoria, o default seletivo. Isso não existe", diz Cristina Kirchner, presidente da Argentina (foto: AFP PHOTO / Daniel GARCIA )

No primeiro dia após a fracassada negociação com os seus credores de fundos especulativos, a Argentina não admite que deu calote e ainda manteve o discurso de que foi alvo de uma extorsão. Mas as tentativas de mostrar controle sobre a situação não surtiram efeitos e só piorou. A agência de classificação de risco Fitch Ratings rebaixou a nota do país nessa quinta-feira, no rastro da Standard&Poor’s. O dólar oficial do país vizinho subiu 0,21%, para 8,217 pesos, e o paralelo 0,50%, para 12,80 pesos. Além disso, a bolsa de valores de Buenos Aires despencou 8,32% e, segundo a consultoria Management&Fit, 44,2% da população culpa o governo pelo default.

Diante do impasse, o juiz federal dos Estados Unidos Thomas Griesa convocou audiência entre as parte para hoje. Griesa conduz o caso entre o governo argentino e os fundos que não aceitaram a reestruturação da dívida do país. O encontro deve ocorrer às 11h de Nova York e foi convocado após o Banco de Nova York emitir um comunicado aos detentores de títulos da dívida argentina. O texto informava que não seria feita a transferência do dinheiro depositado pela Argentina e retido por ordem judicial de Griesa.

O ministro de Economia da Argentina, Axel Kicillof, voltou a rejeitar a ideia de que o país deu um calote nos credores. Para ele, isso teria acontecido se tivesse deixado de pagar a dívida reestruturada ou se tivesse declarado moratória. Kicillof afirmou que o governo fará o possível para que o dinheiro seja depositado para os credores. “Usaremos todos os instrumentos legais para manter o pagamento da dívida. Há uma espécie de campanha para semear pânico e terror”, explicou. Uma tentativa de acordo entre bancos privados argentinos e os fundos abutres ainda está em discussão, mas sem nenhuma sinalização de que será exitoso.

Na avaliação do professor de economia do Instituo de Ensino e Pesquisa Otto Nogami, a crise argentina respinga no Brasil e pode prejudicar ainda mais as exportações da indústria de manufaturas para o país vizinho. Ele também comentou que a crise reduzirá a pó os poucos investimentos em curso na Argentina e tornará escasso o mercado de crédito. “A Casa Rosada contou muito com a sorte e foi irresponsável nesse processo. Faltou competência para fazer essa renegociação e eles adotaram um discurso de vítima que não é adequado para essa situação. O ideal é sentar à mesa e esgotar todas as possibilidades”, disse Nogami.

Exportações

Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) indicam que, no primeiro semestre de 2014, as exportações para a Argentina somaram US$ 7,42 bilhões. O que representa uma queda de 19,8% em comparação com o mesmo período do ano passado. Com isso, é possível que o resultado até dezembro não fique nem perto dos US$ 19,61 bilhões vendidos ao país vizinho em 2013.

Na opinião do professor do Ibmec Minas Gerais Rodrigo Perpétuo, essa situação é um reflexo das fragilidades da economia e da política argentina. Conforme ele, o governo de Cristina Kirchner, assim como o de outros países, criou uma dependência de fundos que não tem compromisso com outra questão que não seja o lucro. Apesar disso, ele comentou que o país vizinho não deu um calote nos credores. “O que há é uma discussão jurídica. No curto prazo não vejo um impacto pesado na economia brasileira, mas isso pode se transformar em uma crise para o Mercosul”, completou.

Em meio ao imbróglio, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, avaliou que a Argentina não deu um calote e que os efeitos da disputa em torno da dívida do país vizinho têm efeito nulo no Brasil. “A Argentina continua pagando a sua dívida, depositou a parcela dos credores e há algumas semanas pagou o Clube de Paris. Ela não está dando calote, é uma situação excepcional, o que está impedindo é o juiz”, disse ele. Para o chefe da equipe econômica, ainda há espaço para negociação, mas admite que o episódio afetará futuras reestruturações que possam acontecer no mundo.

Presidente defende recursos


A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, afirmou ontem que o país vai utilizar todos os instrumentos legais disponíveis para manter as contas claras. Em pronunciamento, Cristina Kirchner destacou que a falta de acordo com os fundos detentores de dívida da Argentina não significa que o país não tem vocação para diálogo. “Temos que defender nossos interesses”, ressaltou. Ela criticou o termo “default seletivo”, que vem sendo empregado para designar a atual situação do país. “Querem inventar uma nova categoria, o default seletivo. Isso não existe.”

A presidente da Argentina encerrou seu discurso afirmando que “se existe um país viável é a Argentina”, já que, segundo ela, dispõe de recursos fundamentais para o século 21 – energia, alimentos, território habitável e cultivável, recursos humanos qualificados e investimentos em tecnologia. A agência de classificação de risco Fitch Ratings rebaixou o rating soberano da Argentina de CC para RD, ou “default restrito”, após o país não ter sido capaz de realizar o pagamento dos juros de bônus discounts emitidos sob lei estrangeira no vencimento em 30 de julho.

O ministro da Economia da Argentina, Axel Kicillof, garantiu que o país vai continuar pagando os credores das renegociações de 2005 e 2010, que tiveram os depósitos bloqueados em Nova York por ordem do juiz federal Thomas Griesa. Na quarta-feira venceu o prazo para um pagamento de US$ 539 milhões em títulos reestruturados “que a Argentina pagou”, disse Kicillof, afirmando que “será feito o possível para que este dinheiro chegue a seus legítimos donos”.

Ele disse ainda que a Argentina tem reservas e quer continuar pagando. “Esse dinheiro (bloqueado em Nova York) não é da Argentina, mas dos credores que têm que cobrar”, insistiu o ministro em seu regresso a Buenos Aires, após participar, na quarta-feira, das negociações que fracassaram com os fundos especulativos na presença do mediador.


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