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Estado de Minas

Inflação cai, mas ainda assombra o brasileiro

Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 apresenta alta de apenas 0,17%, bem inferior ao indicador de junho, de 0,47%. No acumulado de 12 meses, prévia ultrapassa o teto da meta


postado em 23/07/2014 06:00 / atualizado em 23/07/2014 06:54

Brasília – Mesmo com o país à beira da recessão e com a ajuda dos preços dos alimentos, que estão em deflação, o aumento do custo de vida não tem dado sossego ao brasileiro. Apesar de ter desacelerado de uma alta de 0,47%, em junho, para uma de 0,17%, neste mês, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) continua sob forte pressão. Tanto é que, no acumulado de 12 meses, já são sete meses consecutivos de elevação e um novo recorde: em julho, o índice que funciona como uma prévia da inflação oficial cravou alta de 6,51%. Em Belo Horizonte, o índice de julho ficou em 0,19%, pouco acima do nacional. Já em 12 meses, está abaixo, em 6,35%.

Foi a primeira vez em 2014 que o indicador rompeu o limite máximo de tolerância perseguido pelo governo, de 6,5%. Pior do que isso. Hoje, nada indica que os preços cairão para o centro da meta de 4,5% ao ano, que não é alcançada desde 2009. Há, na verdade, um risco elevado de que a inflação siga em disparada até o fim do ano, podendo, inclusive, romper o teto da meta em dezembro, o que não ocorre desde 2003. “No começo do ano, a chance da inflação romper o teto da meta era de 30%, mas esse risco está aumentando e hoje chega a 50%”, disse o economista sênior do BES Investimento, Flávio Serrano.

Durante os três anos e meio de governo Dilma Rousseff a inflação ultrapassou o teto da meta 11 vezes. Ou seja, praticamente um terço da gestão da petista foi marcado pelo descumprimento do limite máximo de tolerância com os preços. O que pode evitar novos maus resultados é o comportamento recente do custo de vida, que perde força. Faz três meses que o IPCA-15 desacelera na comparação mensal. Em julho, o IPCA-15 cravou a menor variação desde agosto de 2013, quando havia avançado 0,16%.

Seria boa notícia não fosse o fato de que é justamente entre maio, junho e julho que a inflação perde mais força no país. “Você tem um padrão sazonal dentro do ano, o que faz com que tenha meses em que a inflação desacelera e outros em que ela volta a subir. O que tem acontecido agora não é diferente”, disse o ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Alexandre Schwartsman.

Por essa comparação, o resultado de 2014 tem sido até pior do que o observado no ano passado. Em maio, junho e julho de 2013, o IPCA-15 avançou, respectivamente, 0,46%, 0,38% e 0,07%. Este ano, as variações foram maiores nos três meses: 0,58%, 0,47% e 0,17%, respectivamente. “Não vejo como dizer que a inflação esteja perdendo força. Na verdade, é justamente o contrário disso”, assinalou o economista, doutor pela Universidade de Berkeley, Califórnia, nos Estados Unidos.

Grata surpresa

Apesar disso, o IPCA-15 de julho veio abaixo das previsões do mercado, que apontavam para uma alta de 0,22%. A surpresa com o número foi tamanha que o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, classificou a alta de 0,17% no mês como “uma grata surpresa num período de notícias tão ruins (na economia)”. O que os analistas não esperavam era que o fim da Copa do Mundo, em 12 de julho, pudesse ajudar a derrubar tão rapidamente os preços de alguns itens que pesaram no bolso dos turistas. O principal deles foi o custo com bilhete aéreo, que ficou, em média, 26,8% mais barato para o passageiro.

A queda do grupo transportes ajudou a reduzir em 0,16% a inflação em todo o país, praticamente todo o índice registrado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em julho. Para Perfeito, o efeito Copa só não foi mais favorável à inflação porque as despesas com hospedagem aumentaram 28% no período.

Não por acaso, o economista reduziu a projeção para o indicador oficial de inflação em 2014 de uma alta de 6,42% para uma elevação de 6,31%, em dezembro. A queda, no entanto, tem menos a ver com o controle efetivo dos preços pelo governo, e mais por conta da ameaça de recessão que ronda o país. Uma parte considerável do mercado financeiro acredita que a retração dos preços sinaliza que a economia esteja em compasso de espera. Não por acaso, as apostas são de que o PIB avance apenas 0,97% este ano, o que seria o pior resultado desde 2009, quando a economia encolheu 0,3%.

É justamente por conta dessa avaliação de que bancos e corretoras aumentaram as apostas num eventual corte da taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central ainda este ano. A medida, acreditam os economistas, ajudaria a estimular o baixo crescimento econômico e evitar que o último ano do governo Dilma Rousseff seja marcado pela recessão. Pelo terceiro dia consecutivo, as taxas de juros negociadas no mercado futuro (que refletem as previsões dos analistas para a Selic) operaram em queda.

O que deu corpo às apostas foi a manutenção do termo “neste momento” no comunicado da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana passada. Para analistas, o BC deixou a porta aberta para o corte de juros já a partir da próxima reunião, marcada para o início de setembro. Mas só deverá dar sinais mais claros nessa guinada na política monetária a partir de amanhã, quando divulgará a ata do último encontro, em que votou pela manutenção dos juros básicos em 11% ao ano pelo segundo mês consecutivo.

Serrano, do BES, não acredita nessa possibilidade, já que pondera que um corte de juros, neste momento, ajudaria piorara ainda mais o pessimismo do setor privado no governo, o que derrubaria o já combalido desempenho do PIB no ano. “O que tem que ficar claro é que o problema do crescimento baixo no país não é juro alto, mas sim justamente inflação elevada. Então, se o BC baixar juros para ajudar o PIB, o remédio para curar a doença, pode, na verdade, matar o paciente”, assinalou.

Schwartsman lembra que algo semelhante foi feito em 2011, quando, mesmo com uma inflação acima de 7%, o BC cortou a Selic em 0,5%, e deu início ao maior processo de quedas da taxa da história, levando os juros para a mínima de 7,25% ao ano. “Se o BC fizer qualquer aventura com os juros agora, ele talvez até possa conseguir acelerar o crescimento, mas certamente lançará as bases para uma inflação acima de 6,5% por um longo tempo no país”, disse. O ex-diretor de Assuntos Internacionais da autoridade monetária é enfático: “Em 2011, o BC fez exatamente isso e deu no que deu, a inflação subiu e o crescimento desabou. Até hoje estamos pagando a conta desse erro”, criticou.

 

Sem reflexos no bolso

 

Apesar de o IPCA-15 apontar desaceleração no mês de julho, consumidores em Belo Horizonte ainda não sentiram a diferença no bolso. Segundo o IBGE, os grupos de alimentos e transportes contribuíram para segurar a alta de preços. Porém, para a dona de casa Maria Letícia Carvalho, os produtos estão mais caros do que há 15 dias, quando ela fez a sua última compra. “Está tudo muito mais oneroso. Óleo e azeite, por exemplo, subiram R$ 2 em relação a duas semanas atrás. Hoje (ontem), estou levando somente um quarto do que comprava. Até tive que trocar as marcas que gostava”, observou.

Ainda contabilizando o lucro com a Copa do Mundo, a proprietária de uma banca de revistas na Zona Sul de BH Maria Rita de Cássia Saez Magalhães destacou que no Mundial as vendas aumentaram porque foi possível oferecer produtos novos à clientela, como o álbum de figurinhas. Mas ela percebe que o período da Copa veio como uma “respirada” para alguns comerciantes. “Agora, nada está com valores baixos. Acredito que, em agosto, vamos sentir mais a diferença já que, em julho, ainda há o reflexo do futebol no comércio”, apostou, mas admitiu que, como consumidora, até o momento, a queda dos preços apontada pelo IPCA-15 ainda não chegou ao seu bolso. 


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