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Estado de Minas ECONOMIA SOLIDÁRIA

Moeda social abastece a economia de duas cidades do interior de Minas

Dinheiro alternativo ao real circula em duas cidades mineiras. Em Chapada Gaúcha, a vereda fomentou a economia local. O mesmo ocorre em 15 bairros de Teófilo Otoni, onde circula cédulas de lisa


postado em 16/06/2014 12:19 / atualizado em 16/06/2014 12:26

Notas foram inspiradas no livro de Guimarães Rosa(foto: Alexandre Guzanshe/EM DA Press)
Notas foram inspiradas no livro de Guimarães Rosa (foto: Alexandre Guzanshe/EM DA Press)


Assim como o real, implantado em 1º de julho de 1994, a primeira moeda social criada em Minas Gerais também fará aniversário no próximo mês. Dia 10, a vereda (cédulas de 0,25, 0,50, 1, 2, 5, 10) completará cinco anos de fomento à economia de Chapada Gaúcha, uma pacata cidade da Região do Urucuia e com aproximadamente 11 mil moradores. Desde então, o comércio do lugarejo foi abastecido com 316 mil veredas (fluxo de entrada e saída). A 650 quilômetros de lá, em Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, o varejo de 15 bairros carentes já movimentaram cerca de 80 mil lisas (cédulas de 0,50, 1, 2, 5 e 10), criada no fim de 2012.

A importância das moedas sociais no interior de Minas é o tema da segunda reportagem da série “Muito além do real”, que o Em.com começou a publicar ontem. No Brasil, há 104 moedas alternativas ao real, sendo três delas em Minas. Ontem, o EM.com mostrou como a esmeralda, criada no distrito de Melo Viana, em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte, mudou a economia daquele lugarejo. Hoje, a reportagem mostra como as outras duas moedas ajudam a fomentar a economia em regiões do interior do estado.

A primeira moeda social no estado, a vereda, foi batizada em alusão ao romance Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa (1908-1967). O mineiro de Cordisburgo, na área Central do estado, parece ter profetizado tanto o surgimento da cidade quanto o do dinheiro em sua obra mais famosa. Num trecho, o jagunço Riobaldo Tatarana, personagem principal do livro, declama no lombo de sua montaria: “Trouxe tanto este dinheiro, o quanto, no meu surrão (bolsa), p’ra comprar o fim do mundo no meio do Chapadão”.

A obra foi lançada em 1956, quase quatro décadas antes da emancipação de Chapada Gaúcha (1995) e do lançamento da moeda alternativa (2009). A cidade nunca teve uma agência bancária, o que levou os moradores a se organizarem e fundarem um banco comunitário, responsável por administrar o dinheiro alternativo. Até então, moradores precisavam ir a municípios vizinhos para sacar salário, aposentadoria, pensão etc. Resultado: boa parte do dinheiro era despejado no comércio de fora.

A criação do banco comunitário e a das notas de veredas mudaram esse cenário. Os gestores da instituição financeira adotaram uma estratégia curiosa para abastecer o comércio com o dinheiro alternativo ao real: fizeram uma parceria com o Banco do Brasil, o que permitiu muitos empregados a receber o salário no banco comunitário, mas estimulou as essas pessoas a sacarem parte da remuneração em veredas.

“Fizemos a campanha e muita gente aderiu. No comércio, conseguimos cadastrar 98% dos empreendimentos. Só não há na área rural. Alguns dão desconto de até 10% nas compras pagas com veredas”, conta Rosimeire Magalhães Gobira, gestora do banco comunitário, onde os habitantes podem requerer empréstimos de 20 a 200 veredas para gastar no mercado local. Uma das metas da instituição é abrir uma filial no distrito de Serra das Araras, a 40 quilômetros de estrada de chão da sede.

Rosimeire Magalhães Gobira estimula moradores de Chapada Gaúcha receberem parte do salário em veredas.(foto: Divulgação )
Rosimeire Magalhães Gobira estimula moradores de Chapada Gaúcha receberem parte do salário em veredas. (foto: Divulgação )
Longe de lá, em Teófilo Otoni, circula a lisa, cujo nome é uma homenagem ao padre italiano Geovanni Batista Lisa, que morou na cidade e ajudou a fundar a entidade social Aprender e Produzir Juntos (APJ). Criada no fim de 2012, a moeda circula em 15 bairros, onde moram 35 mil pessoas, e já injetou no comércio local o correspondente a R$ 80 mil. “Há estabelecimentos que oferecem descontos de até 10%. As pessoas podem pegar (em empréstimos) até 500 listas para consumo”, conta Joana Alves Louback, coordenadora do Banclisa, a instituição comunitária que administra o dinheiro social.

Cerca de 200 comerciantes dos 15 bairros da cidade aceitam a lisa. Um deles é a empresária Jorgiane Santos Araújo, dona da farmácia João XXIII: “Nossas vendas subiram 20% desde então”. Uma das estratégias foi oferecer descontos de dois dígitos em medicamentos comprados com a moeda social. Outra foi dar troco em lisas a quem paga tanto com o dinheiro alternativo quanto com o real: “É uma estratégia boa, pois a pessoa que recebe o troco em lisa continua comprando mercadorias em nossa região, fortalecendo o varejo local”.

Amanhã, o Em.com mostrará que os bancos comunitários, responsáveis por administrar as moedas sociais, também fomentam os pequenos negócios das regiões em que atuam com as chamadas linhas de crédito produtivas.


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