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Estado de Minas

Crise no setor de alcool deixa um rastro de prejuízos

Em dificuldades, usinas de açúcar e álcool afetam indústria de máquinas. Produtores estão sem receber e empregados têm salários reduzidos. Cidades perdem arrecadação


postado em 30/03/2014 06:00 / atualizado em 30/03/2014 09:16

A crise das usinas de açúcar e álcool deixa um rastro de prejuízos. Por trás dos canaviais a situação não é menos preocupante. A indústria de bens de capital que produz equipamentos para o setor já registrou queda de 50% no faturamento desde 2010. Mais de 50 mil postos de trabalho foram fechados. “Hoje, nas indústrias de bens de capital, não existe pedido em carteira proveniente de usina nova. Os investimentos são só em manutenção, infraestrutura e renovação de canavial", diz a presidente da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), Elizabeth Farina.

Luciano Jacob, empresário e produtor de cana em São Simão, em Goiás, é parceiro do Grupo Andrade desde 2012. São 230 hectares de cana. A empresa, que enfrenta dificuldades financeiras, pagou a cana plantada por ele na safra de 2012/2013, mas a de 2013/2014 ainda não foi quitada e em três meses deveria pagar a safra 2014/2015. “Essa eu acho que também não vamos receber.” O prejuízo já é de R$ 300 mil. Mas há outros produtores em situação bem pior. “Sou dono de terra, mas tenho uma imobiliária. Mas há aqueles que dependem unicamente da lavoura para viver, mas não podem plantar outra coisa porque assinaram um contrato com a usina”, explica Luciano.

Ele conta que já sente os reflexos indiretos da crise em sua empresa e que comerciantes dos municípios de Santa Vitória, União de Minas e Chaveslândia, em Minas, e São Simão, Paranaiguara e Itaguaçu, em Goiás, que estão no entorno da usina e juntos somam 70 mil habitantes, sofrem drasticamente. “Estão deixando de entrar R$ 2,5 milhões por mês nos cofres dessas cidades”, calcula. Além da crise derivada do tsunami econômico de 2008, os problemas são agravados por questões ligadas à gestão dos estabelecimentos.

Geane Ângela Borges, chefe de gabinete da Prefeitura de Canápolis, no Triângulo Mineiro, diz que o encerramento das atividades da Usina Triálcool, do Grupo João Lyra, que mantém operações também em Alagoas, abateu a cidade. Com 12 mil habitantes, a indústria era a maior geradora de empregos da região e despejou na cidade centenas de trabalhadores. “O comércio está parado, a população desempregada não tem dinheiro para comprar e nem para pagar o que já comprou”, diz ela. Segundo a chefe de gabinete, a dívida da usina com a prefeitura aproxima-se de R$ 5 milhões, mais de duas vezes a arrecadação mensal do município.

“Situação pior é a dos trabalhadores”, exalta Gilmar Natal de Melo, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Canápolis. Segundo ele, em sua região, a usina deixa um passivo avassalador. São 1 mil pessoas na região que desde dezembro não recebem salários, nem benefícios, férias ou 13º salário. “Os trabalhadores não estão sendo levados para a roça, não foram demitidos e nem recebem salários. Estão passando toda sorte de necessidade desde que a Triálcool parou de moer.”

Impacto Chefe de gabinete da Prefeitura de Guaranésia, no Sul de Minas, Carlos Aureliano Fávero diz que na safra a Usina Destilaria Alvorada do Bebedouro chegava a gerar 2 mil empregos, peso para a cidade de 19 mil habitantes. A moagem de 1 milhão de toneladas caiu para 300 mil. Segundo Fávero, a arrecadação de ICMS do município caiu 8%, somando prejuízos para o Executivo de cerca de R$ 3 milhões ao ano. “A situação da usina começou a se agravar a partir de 2008. Estamos sentindo os efeitos com o desemprego e problemas sociais agravados. O que está salvando é que a cidade recebeu investimentos de três novas indústrias.”

Luiz Antônio Meireles Vasconcelos, presidente da Associação dos Produtores de Cana-de-açúcar do Vale do São Simão, explica que com a facilidade para tomar crédito junto aos bancos de desenvolvimento, a má administração gerou problemas de liquidez. “Só aqui no nariz de Minas são mais de 12 usinas funcionando. Em Goiás, o ICMS sobre álcool combustível é de 6%. Em Minas, é 18%. Isso arrebenta qualquer empresa. A gente entende que o governo tem que arrecadar ICMS, mas Minas penaliza a atividade sucroalcooleira”, dispara.

No bolso José do Carmo de Oliveira é líder agrícola da Usina Andrade. Há quatro meses, sua remuneração mensal caiu de cerca de R$ 2.500 para R$ 1.300 líquidos. É que nesse período a empresa está parada e ele está recebendo apenas o salário de carteira, com os descontos determinados pela legislação. “A gente tem consignado (empréstimo) e as prestações estão atrasadas. Aluguel é até possível negociar, mas com os bancos não tem negociação”, explica. Dione Silva Ribeiro, que trabalha no setor de colheita e plantio, recebia R$ 3.200. Hoje a quantia foi reduzida para R$ 2.400. “A gente nunca sabe o que houve e temos medo de não receber o próximo salário”, diz.


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