(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Inflação assombra cidades do interior de Minas

Índices medidos em cidades polo de Minas fecham 2013 bem acima da inflação oficial do país. Em Lavras, os preços subiram 16,93% no ano passado. Em Viçosa, aumento médio foi de 9,12%


postado em 07/02/2014 06:00 / atualizado em 07/02/2014 07:25

O fôlego das remarcações de preços no interior de Minas Gerais surpreendeu pelo segundo ano em 2013. Municípios considerados polos regionais importantes no estado se viram forçados a entrar numa corrida para tentar driblar a inflação, em ritmo mais acelerado do que se viu no custo de vida na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A população de Lavras, no Sul do estado, teve de encarar em 2013 a maior elevação dos últimos seis anos nas despesas do dia a dia, que alcançou 16,93%, ante a variação de 5,75% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) apurado na Grande BH pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em Viçosa, na Zona da Mata, o orçamento familiar foi pressionado pelo IPC de 9,12% no ano passado, enquanto em Montes Claros, no Norte de Minas, a vida ficou 7,59% mais cara, em média. As três cidades já haviam enfrentado significativos aumentos em 2012.

Só Uberlândia, no Triângulo, conviveu com inflação inferior à média no estado e no país (5,91%), com o índice ficando em 4,59%. Além dos alimentos, que encareceram acompanhando o comportamento verificado em todo o país, as quatro cidades mineiras que têm índices próprios de preços ao consumidor medidos pelos institutos de pesquisa das universidades locais reclamam dos reajustes dos preços dos serviços pessoais e dos aluguéis, da infraestrutura deficiente da logística, que onera o frete do transporte de mercadorias, e da falta de concorrência no varejo. Não fosse a desoneração de impostos federais incidentes sobre os produtos da cesta básica, anunciada em março de 2013 pela presidente Dilma Rousseff, a inflação teria sido mais cruel no interior, segundo a economista Vânia Vilas Boas, coordenadora do IPC medido pelo Departamento de Economia da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).

“Como já vimos o anúncio de que a safra agrícola deste ano tem potencial maior que a de 2013, acredito em desaceleração dos alimentos agora, capaz de levar a inflação aos 6% previstos como meta de inflação (para 2014)”, diz Vânia Vilas Boas. Sem poder pensar nos rumos que os preços poderão tomar, os consumidores do Sul de Minas usam a sensibilidade na hora das compras e no trabalho para tentar driblar as pressões no bolso. Em Maria da Fé, Maria Regina Pereira Chiaradia, dona do Restaurante Fogão a Lenha Três Marias, passou a pesquisar diariamente os preços nas gôndolas de supermercados e insistir nas ofertas dos fornecedores.

Quando um dos ingredientes do cardápio está em alta, a saída é substituí-lo, com uma pitada de criatividade. A batata, que encareceu 24,79% no ano passado, foi trocada algumas vezes pela mandioca, que registrou deflação de 1,72% no mesmo período. “Faço, nesse caso, um purê com a mandioca”, conta Maria Chiaradia. Em substituição ao contrafilé bovino, que ficou 5,75% mais caro em 2013, ela recorre à costela, que sofreu reajuste de preços bem inferior, de 3,75%. “Se o óleo de soja dispara, o jeito é reduzir frituras”, complementa.

No município vizinho de Cristina, o taxista Roberto Fernandes também precisa se desdobrar. Há três anos no ramo, ele conta que prefere transportar passageiros que só vão pagar a conta no fim do mês a perder a corrida. “A gasolina ficou muito cara”, lamenta. O preço do litro do combustível subiu 6,53%, em média, no ano passado. No posto instalado ao lado da rodoviária, onde Roberto aguarda seus passageiros, a gasolina é vendida a R$ 3,19. A 22 quilômetros de lá, em Carmo de Minas, o litro do combustível custa R$ 2,89. “Quando preciso levar alguém para lá, aproveito e encho o tanque. Pesquiso, da mesma forma, os preços de produtos como pneus em outras cidades vizinhas. É o jeito para fugir da inflação”, afirma.

Deficiências regionais

Montes Claros, Lavras e Viçosa sofrem com deficiências na infraestutura de transporte e armazenamento de produtos. Distante 240 quilômetros de BH, com seus 94 mil habitantes, Lavras depende dos entrepostos da Ceasa Minas e da Ceagesp, de São Paulo, a cerca de 400 quilômetros, para colocar hortifrutigranjeiros na mesa. “É custo diário, de logística, que se paga”, diz o professor Ricardo Pereira Reis, coordenador do IPC calculado pelo Departamento de Administração e Economia da Universidade Federal de Lavras (Ufla).

Esse chamado passeio da produção sacrifica especialmente os moradores de Montes Claros, onde os preços do grupo dos alimentos encareceram 13% no ano passado, pressionados pela estiagem que se estendeu por mais de sete meses no ano passado. Os itens mais afetados foram tomate, batata, leite e carne. A professora Maria do Carmo Lopes, que é mãe de três filhos, protesta contra os preços altos. “Não há jeito. Para quem é assalariado como eu fica muito difícil viver e comer bem com tanto aumento”, afirma.

Produtos agrícolas que dependem do sistema de comercialização da Ceasa, em Contagem, distante 420 quilômetros, saem de Montes Claros em direção ao entreposto para depois retornar ao comércio local. A coordenadora do IPC, Vânia Vilas Boas, destaca a dependência do abastecimento do varejo de frutas e legumes buscados a mais de 1 mil km, em São Paulo e na Bahia. A situação se agrava com a seca prolongada. As chuvas se concentraram em duas semanas de dezembro no município, que amarga o veranico prolongado desde o começo de janeiro.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)