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Estado de Minas

Crise cambial leva os Brics à berlinda

Na gangorra, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul perdem espaço na disputa mundial pelos investidores


postado em 03/02/2014 00:12 / atualizado em 03/02/2014 07:47

Depois de um período de bons indicadores econômicos nos países que integram o bloco dos chamados Brics, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, essas nações emergentes se veem mergulhadas na desaceleração, ano a ano, da taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o conjunto da produção de bens e serviços. Grandes potências mundiais, por sua vez, conseguem se reerguer, o que provoca aumento da pressão sobre o grupo dos emergentes. Características particulares de cada um dos emergentes ajudam a entender a redução da velocidade tão esperada de expansão. No caso do Brasil, a baixa taxa de investimento somada às dificuldades enfrentadas pelas empresas exportadoras limitam o crescimento da economia. Em ritmo mais lento, os Brics veem surgir pelo retrovisor o novo bloco composto por México, Indonésia, Nigéria e Turquia, batizado de Mints.

Criado em 2001, pelo então economista-chefe do Goldman Sachs, Jim O’Neill, o termo Brics unia quatro países emergentes (a África do Sul não o integrava inicialmente) com boas perspectivas de crescimento ao longo das décadas seguintes e duas características principais: áreas territoriais extensas e grandes populações. No auge da crise econômica mundial, os emergentes foram vistos como capazes de se manter de certa forma alheios à turbulência.

Em 2010, o avanço confirmou-se: com os PIBs da China e da Índia crescendo acima de dois dígitos, a média do grupo foi de 7,2%, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). O ritmo não se sustentou no seguinte e, em 2012, o avanço foi tímido, de 3,56%. Os primeiros números de evolução do PIB de 2013 dão conta que houve sequência na desaceleração das economias, com o freio da expansão da Rússia e da China. No caso brasileiro, a taxa de crescimento será maior, o que pode ser justificado pelo patamar baixo de comparação.

O professor e pesquisador da área internacional do Centro de Estudos e Pesquisas Brics, Paulo Wrobel, divide os países em dois níveis. De um lado, China e Rússia conseguem sustentar suas economias, com os chineses passando por ligeiro ajuste, com ênfase no mercado doméstico e diminuição do patamar de crescimento, e os russos se firmam como potência energética, sendo os maiores exportadores de petróleo do mundo. De outro lado, os três países restantes – Brasil, Índia e África do Sul – passam por diferentes problemas, como a alta inflação indiana, que, em 2012, superou dois dígitos, e os problemas estruturais do Brasil. Em comum, eles sofrem com a valorização do dólar. “As regras do jogo estão em mudança. Temos um movimento cambial forte, de investidores repatriando divisas para os Estados Unidos, o que causa desalinho das moedas”, afirma.

A recuperação econômica dos Estados Unidos é fator preponderante para frear o crescimento dos Brics. Tão logo o Federal Reserve (Banco Central dos Estados Unidos) sinalizou com o término da política de remuneração quase zero, tem sido notável a fuga de capital de economias emergentes. Por se tratar de investimentos com risco nulo, os agentes financeiros migraram para as aplicações norte-americanas, o que, desde os últimos meses do ano passado, tem resultado em valorização do câmbio no Brasil, Argentina e África do Sul, além de pressionar as moedas russa e indiana.

O professor de ciência política do Ibmec Diogo Costa considera que houve demasiado otimismo em relação ao Brasil, apesar de se tratar do país com menor contribuição para o grupo, com crescimento médio inferior ao da média da América Latina na última década. Ele crítica a formulação da sigla e diz que, no mínimo, a letra C, de China, deveria ser a primeira inicial devido à força do país, transformando-a em Cribs. “As pessoas eram pessimistas com Estados Unidos e Europa. Parecia haver economias mais vibrantes, mas os Brics não retratam um grupo uniforme. São países diferentes entre si”, afirma o professor.

A dependência dos demais Brics em relação à China é apontada por especialistas como uma das razões para a diminuição do ritmo dos demais pares. Em ascensão superior a 10%, o gigante asiático teria suportado o crescimento dos integrantes do bloco com a alta demanda por commodities, produtos minerais e agrícolas cotados no mercado internacional. Em painel do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, rebateu as críticas e disse não acreditar em crise de meia-idade dos Brics. Segundo ele, a recuperação das potências econômicas será gradual e inferior à taxa dos países emergentes. Mas Mantega confirma a necessidade de mudanças nos modelos de crescimento dos integrantes do grupo.


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