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Estado de Minas

Comunidade no Facebook contra abusos de preços chega a Belo Horizonte

$urreal é um novo formato de protesto em que grupos pressionam contra a cobrança de valores abusivos no comércio e nos serviços


23/01/2014 06:00 - atualizado 23/01/2014 07:34

(foto: Reprodução Facebook)
(foto: Reprodução Facebook)

Quase três décadas depois do surgimento do movimento das donas de casa, em que mães de família fiscalizavam semanalmente a evolução de preços nos supermercados, o Brasil assiste a novo formato de protesto em que grupos pressionam contra a cobrança de valores abusivos no comércio e nos serviços. E, claro, sugerem boicote aos estabelecimentos onde identificam abuso. O novo ambiente de protesto é o Facebook, maior rede social do planeta, onde os grupos criaram uma nova moeda, a $urreal – estampado com o rosto do pintor Salvador Dalí, mestre do surrealismo –, para denunciar os preços abusivos. O movimento começou no Rio de Janeiro, ganhou réplicas em outras capitais e chegou a BH no domingo.

Até as 21h dessa quarta-feira, a comunidade BH $urreal contava com 9.238 seguidores – média diária de 1.952 adesões. A maior parte das postagens no grupo reclama de preços em bares, restaurantes e similares, um dos principais setores
da economia da cidade. Numa casa de shows da Grande BH, por exemplo, um membro do grupo informa que a embalagem de 500 ml de água mineral é vendida a R$ 5. Em vários pontos comerciais da cidade, a mesma mercadoria sai por R$ 1,50. Outro seguidor lamenta que a pipoca na Praça do Papa seja vendida por R$ 15. Outro membro do grupo denuncia que um bar da Savassi cobra mais pelo chope servido sem colarinho.

“A ideia da página é que o comerciante pratique um valor justo pela mercadoria. Há estabelecimentos que pedem R$ 21,90 na porção de 300 gramas de batata fria. O quilo do produto congelado, porém, sai por cerca de R$ 3. Sei que o dono tem custos, como óleo, gás e funcionários, mas pedir 700% a mais? É surreal”, indignou-se o comunicador Flávio Peixe Silva Rosa, um dos organizadores da página. Ele teve a ideia de criar a BH $urreal depois de perceber que a primeira página do gênero, feita há poucos dias por três amigos no Rio de Janeiro e com mais de 110 mil adeptos, havia conquistado bons resultados (veja ao lado).

Além do Rio e de BH, páginas com a expressão “$urreal – não pague” foram montadas em São Paulo, Brasília, Curitiba e Recife. No caso da capital mineira, a maioria das críticas é direcionada a bares e restaurantes, setor em que muitas mercadorias subiram bem acima da inflação oficial do país em 2013 (5,91%). Aqui, a inflação da cerveja disparou 13,53%. A da refeição fora de casa, 7,34%. A do lanche, 9,77%. Na prática, porém, alguns empreendimentos subiram os preços bem acima desses percentuais. Quem conta é o professor Renan Loreto: “Uma cerveja num bar da Rua Francisco Sales custava R$ 6 no meio do ano passado. Agora, R$ 8 (diferença de 33,3%)”. Insatisfeito, ele passou a prosear e a beber com amigos em outro bar, na mesma rua, onde uma garrafa idêntica é negociada a R$ 5. “O bar é tradição do belo-horizontino. Nosso lazer está cada vez mais difícil. Como pode haver preços tão diferentes na mesma rua?”, questiona o rapaz.

Defesa

O diretor-executivo da seção mineira da Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel-MG), Lucas Pêgo, informou que o setor não repassou para a clientela todos os aumentos a que se submeteu. Prova disso, justifica, é que os bares e restaurantes, em média, tiveram um faturamento 7% maior em 2013 na comparação com 2012. “Levando-se em conta que a inflação ficou em torno de 6%, é como se tivéssemos obtido um crescimento perto de zero, foi como se houvesse um empate. A margem de lucro nos restaurantes tem diminuído, justamente porque não repassamos todos os aumentos para os clientes”, sustentou.

Lucas acrescenta que é difícil analisar mercadorias semelhantes com preços bem diferentes em estabelecimentos que não sejam da mesma rede. “No caso da batata frita, por exemplo, não é só a porção que você está comprando. Você está ‘comprando’ o ambiente: as pessoas do lugar, o atendimento etc. Já no caso da cerveja, as fabricantes vendem a mercadoria por preços diferentes (para estabelecimentos vizinhos), pois levam em conta fatores como o interesse pelo ponto e o poder de barganha (do comerciante).”

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A primeira comunidade $urreal – não pague foi criada no Rio de Janeiro, na sexta-feira, por três amigos. A comunidade, que já conta com mais de 110 mil adeptos, rendeu resultado: um ambulante na Praia de Copacacbana que vendia cada coco por R$ 6 reduziu o valor para R$ 4, depois de fotos de suas mercadorias serem postadas no fórum virtual.

“Eu e dois amigos – Flávio Soares e Andréa Cals – reclamávamos dos preços no Rio e um quarto colega propôs, numa nota de jornal, que o real fosse substituído pela ‘moeda’ surreal. Daí tivemos a ideia de fazer a página. Em 24 horas, tínhamos 20 mil curtidas. Já são mais de 110 mil”, disse a crítica de arte Daniela Name, uma das fundadoras do grupo.
Flávio Peixe Rosa decidiu criar o grupo BH $urreal - Não Pague, no Facebook, depois de ver os resultados que os grupos obtiveram em outras capitais(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Flávio Peixe Rosa decidiu criar o grupo BH $urreal - Não Pague, no Facebook, depois de ver os resultados que os grupos obtiveram em outras capitais (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)

Uma das primeiras postagens no Rio $urreal foi a foto de um cardápio de um quiosque da Praia de Ipanema que vende o misto quente por R$ 20. O dono do empreendimento ainda não se sensibilizou com os vários comentários. “Se a gente se recusar a pagar o preço cobrado, as vendas caem e o dono baixa o preço. O brasileiro precisa ser um consumidor consciente, precisa compreender que só há comerciantes que cobram valor abusivo porque tem quem pague”, completa.

A quantidade de seguidores e o interesse de outras capitais em fundar comunidades semelhantes levaram Daniela a avaliar que o brasileiro tem uma demanda reprimida em relação a protestos relacionados aos preços exorbitantes praticados em várias partes do país. “A onda é deixar de comprar. É bom saber que outras capitais estão fazendo o mesmo”.

Comentários

Em Belo Horizonte, ontem, vários internautas se manifestaram sobre a criação da comunidade no site do Estado de Minas. O internauta Marcelo Loschi, por exemplo, elogiou a iniciativa: “Ótima. Parte da culpa é dos consumidores, que gostam de pagar caro”. Ele acrescenta que conhece muita gente que “gosta do que é caro; não necessariamente do que é bom!!!!”.

Gilson Júnior acredita que a internet poderá ajudar a reduzir os preços cobrados no país: “Finalmente as pessoas estão utilizando a força das redes sociais para algo útil, que poderá favorecer a todos! As empresas que abram os olhos e baixem seus preços abusivos”.

Renato Rego, por sua vez, alerta para a possibilidade de aumentos exorbitantes em função da Copa do Mundo: “Já era esperado. Com a chegada da Copa, todos os serviços vão ser inflacionados! Até parece que a cidade vai ficar superlotada de estrangeiros. Quem é prejudicado somos nós mesmos. Resta saber se, ao final da fanfarra absurda e abusiva da Copa, os preços vão voltar ao normal”. (PHL)


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