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Estado de Minas

Copa do Mundo não embala avanço da economia brasileira

Atrasos nas obras reduziram ímpeto dos investimentos. Gastos com infraestrutura não chegam a 2,5% do Produto Interno Bruto


postado em 15/01/2014 06:00 / atualizado em 15/01/2014 07:45

Final da Copa das Confederações, no Maracanã: Brasil venceu a Espanha por 3 a 0, mas ritmo da seleção canarinho está diferente do da economia nacional(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A/Press)
Final da Copa das Confederações, no Maracanã: Brasil venceu a Espanha por 3 a 0, mas ritmo da seleção canarinho está diferente do da economia nacional (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A/Press)

A decisão do governo de investir o dinheiro público em estádios de futebol em vez de direcioná-lo para projetos de mobilidade urbana vai reduzir o impacto da Copa do Mundo no crescimento econômico do país. A avaliação de especialistas é de que a contribuição do evento esportivo ao Produto Interno Bruto (PIB) será menor do que se esperava inicialmente em função dos atrasos na ampliação e na reforma de aeroportos e a postergação de obras de infraestrutura, como o trem-bala, que nem sequer saiu do papel.

O Itaú Unibanco previa que a Copa aumentaria o PIB do país em 1,5 ponto percentual em um período de três anos, entre 2013 e 2015. Mas decidiu cortar a projeção para algo em torno de 1 ou 1,5 ponto. "Com viés de baixa", diz o economista Caio Megale, responsável pelo estudo. O motivo? "Acreditamos que a nossa projeção inicial estava um pouco superestimada, já que houve uma redução nos investimentos programados para a Copa, sobretudo em projetos de infraestrutura", explicou.


Parece pouco, mas, tendo em vista o tamanho da economia brasileira, isso significa até R$ 20 bilhões a menos no PIB, segundo cálculos preliminares. O menor impacto no crescimento se deve, sobretudo, a atrasos nos projetos tocados pelo setor público. Em Cuiabá, o principal legado da Copa é o veículo leve sobre trilhos (VLT), obra que custará R$ 1,4 bilhão aos cofres públicos. As previsões mais otimistas, no entanto, são de que o projeto seja entregue apenas em dezembro, seis meses após a realização do Mundial na cidade.

Os atrasos nas obras da Copa tiraram o ímpeto dos investimentos, que seria o principal efeito do torneio na economia do país. Na África do Sul, o último país sede, os gastos com infraestrutura dispararam de 4,5% para 10% do PIB nos anos anteriores aos jogos. No Brasil, conforme cálculo de economistas, a taxa de expansão foi bem mais modesta: de 1,8% para 2,3%.

Outra meta ainda não alcançada é melhoria da infraestrutura dos aeroportos, um desafio que se torna mais urgente diante das dimensões continentais do país. A cinco meses da Copa, oito das 12 cidades sedes ainda não concluíram nem ao menos 50% das obras necessárias para a ampliação e reforma dos terminais aéreos. Em alguns lugares, como no Recife, o projeto da nova torre de controle nem sequer saiu do papel. Sem a opção aérea, restará ao turista contar com a sorte para enfrentar estradas esburacadas e mal sinalizadas, além de percorrer grandes distâncias para acompanhar os jogos.

Em Confins, obras dificilmente ficarão prontas até junho e, além do terminal mineiro, reformas nos aeroportos estão atrasadas em oito das 12 cidades sede do torneio (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)
Em Confins, obras dificilmente ficarão prontas até junho e, além do terminal mineiro, reformas nos aeroportos estão atrasadas em oito das 12 cidades sede do torneio (foto: Edesio Ferreira/EM/D.A Press)
Dois dos aeroportos que mais vão receber turistas durante a Copa ainda estão em reforma, e dificilmente ficarão prontos até a realização do torneio, em junho: Confins, na Grande BH, e Galeão, no Rio. Após incumbir a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero) de tocar as obras nos dois terminais, o governo decidiu conceder os aeroportos à iniciativa privada, como já havia feito com os terminais paulistas de Guarulhos e Viracopos e com o Juscelino Kubitschek, em Brasília.

A burocracia estatal atrasou o andamento dos leilões, que só foram realizados em novembro do ano passado. Para tentar agilizar as obras, o governo estuda antecipar em três meses o prazo de entrega dos aeroportos às empresas vencedoras, numa tentativa de aumentar o ritmo das reformas.

OUTRO LADO Em nota, o Ministério do Esporte diz que os reflexos econômicos da Copa do Mundo na economia só serão conhecidos após a realização do Mundial. "Até esse momento, todas as avaliações resultam de previsões", argumentou o órgão. O governo também rebate as críticas de que os atrasos e postergações de projetos de investimentos tenham afetado o impacto econômico do torneio. "Não é verdadeira a afirmação de que o governo abandonou projetos de infraestrutura", diz o texto.

O ministério ainda encaminhou à reportagem estudo feito há quatro anos pela consultoria Ernst & Young que projetava em R$ 142,39 bilhões o impacto dos jogos na economia nacional, entre 2010 e 2014. Por fim, a nota afirma que a Copa é "uma oportunidade para alavancar investimentos em infraestrutura que vão beneficiar a população. São obras em mobilidade urbana, aeroportos, portos, telecomunicações, segurança e turismo".

Gasto maior só nos estádios

Brasília – O freio no ímpeto dos investimentos para a Copa do Mundial ocorreu porque parte do dinheiro público utilizado nas obras serviu para erguer estádios e centros de treinamento a serem utilizados pelas seleções que disputarão o torneio de futebol. "Havia a expectativa de grandes investimentos em mobilidade urbana, mas os gastos mais fortes se concentraram mesmo nos estádios de futebol. Esse tipo de obra, apesar de importante para a realização dos jogos, não tem nenhum impacto relevante de estímulo sobre a economia", diz Armando Castelar, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutor em economia pela Universidade da Califórnia.

Em 2010, o então presidente Lula disse que o Brasil realizaria "a Copa da iniciativa privada". Entretanto, desde então, o governo gastou bilhões em obras para a realização do evento. Relatórios da Controladoria-Geral da União (CGU) mostram que, de 2010 a 2013, a União já empenhou R$ 7,5 bilhões apenas na construção de estádios. O montante não considera as obras tocadas com recursos dos governos regionais, como o Estádio Nacional Mané Garrincha, em Brasília, que foi bancado pelo GDF, e que pode ter custado R$ 1,8 bilhão aos cofres locais.

Os gastos bilionários, entretanto, pouco contribuirão para estimular o crescimento da economia, diferentemente do que ocorreu em outros países em desenvolvimento que sediaram a Copa do Mundo. Em 2013, segundo cálculos do Itaú Unibanco, o PIB brasileiro deve ter crescido 2,2%. Neste ano, a estimativa do banco é que a economia desacelere, com uma alta de apenas 1,9%. Para 2015, a projeção é de expansão de 2,2%.

O PIB sul-africano, por exemplo, teve uma elevação considerável no ano do torneio. Um ano antes da Copa, em 2009, o PIB do país havia caído 1,5%. No ano do evento, o indicador cresceu 3,1% e, em 2011, avançou 2,2%. Vale lembrar que o período foi marcado pelo aprofundamento da crise econômica mundial, que teve reflexos também sobre a economia brasileira. "Não foi só assistindo à TV que o PIB melhorou durante a Copa na África do Sul", observa Armando Castelar. "Diretamente, o impacto econômico da Copa já não é tão grande, mas, certamente, é maior nos países que conseguem aproveitar o evento para desengavetar projetos de desenvolvimento produtivo, como a reforma e a ampliação de estradas, portos e aeroportos", diz.

EFEITO POSITIVO Mesmo em países ricos, que tiveram que fazer menos investimentos em infraestrutura básica, o efeito da Copa sobre o PIB foi positivo, como ocorreu na Espanha, em 1982. Um ano antes do evento, a economia espanhola havia encolhido 0,4%. No ano dos jogos, houve incremento de 1,2% e em 1983, elevação de 1,7%. O mesmo ocorreu na Alemanha, que sediou o evento em 2006. A economia cresceu 0,8% em 2005, 3,9% no ano dos jogos e 3,4% em 2007. (DB)


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