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Estado de Minas

Faltam imóveis de um quarto na capital

Lei que limita apartamentos com menos de 54m2 nas áreas mais nobres da capital desestimula as empresas


postado em 16/12/2013 06:00 / atualizado em 16/12/2013 08:01

Geraldino Pires tentou comprar outro apartamento no Centro de BH (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
Geraldino Pires tentou comprar outro apartamento no Centro de BH (foto: Tulio Santos/EM/D.A Press)
Enquanto em algumas metrópoles mundo afora apartamentos de um quarto se tornaram vedetes do mercado imobiliário, em Belo Horizonte as construtoras são praticamente impedidas de atender a demanda devido a restrições na legislação. Segundo pesquisa da Fundação Ipead-UFMG, desde dezembro do ano passado não há oferta de apartamentos novos de um quarto. A explicação do setor é que no anel da Avenida do Contorno e em outros bairros tradicionais de BH é exigido que as unidades tenham área superior a 54 metros quadrados.

O diretor da Área Imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Bráulio Franco Garcia, explica que além do perímetro da Contorno, em bairros como São Lucas, Serra, Sion e São Pedro as empresas são obrigadas a entregar apartamentos com pelo menos 54 metros quadrados. A metragem mínima ultrapassa o padrão de imóveis de um quarto. Normalmente, para evitar preços maiores, eles têm de ter entre 25 e 45 metros quadrados. “Mais que isso encarece para solteiros jovens e idosos”, afirma.

Apesar da falta de oferta, isso não significa que não há procura por imóveis com esse perfil. De acordo com o Censo 2010, em BH, 14,33% dos domicílios são ocupados por somente uma pessoa. O percentual é crescente. As pesquisas com números de 1991 e 2000 mostram que 8% e 10,98% dos domicílios, respectivamente, tinham só um morador. “Não é que o construtor não queira. Tem mercado, tem demanda, mas BH restringe. Não é bem-vindo apartamento pequeno”, diz Garcia, que vê a lei como negativa para BH.

Aposentado, aos 63 anos, Geraldino Pires de Andrade recebeu uma oferta interessante por uma casa que herdou da mãe. Por três meses, “caçou” imóveis de um quarto no Centro para investir. Depois de muito procurar, não conseguiu nada, até que a compradora desistiu do negócio. Solteiro, ele queria ter uma segunda kitchnet para poder alugar. Na que já possui, na Rua da Bahia, ele mora há mais de uma década. “Para mim, sozinho, está bom demais, resolvo tudo a pé”, diz.

Segundo o Sinduscon-MG, no entanto, é possível identificar construções de um quarto em cidades vizinhas da capital, como Nova Lima, Betim e Contagem. Foi a opção da Patrimar, que ergueu dois empreendimentos formados por apartamentos menores, de um e dois quartos, no Bairro Vila da Serra, divisa de Nova Lima com BH. Uma semana depois do lançamento o estoque de imóveis com quarto único estava zerado. “São apartamentos em que o preço final alcança o bolso de muita gente. Por R$ 320 mil, uma família com renda de R$ 7 mil pode morar no Vila da Serra”, afirma o diretor-geral da Imobiliária Lopes, responsável pelos negócios dos dois prédios, Fernando Antunes.

Considerados uma tendência no Brasil, apartamentos pequenos são apropriados para solteiros e para casais sem filhos. Mas o presidente da Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato das Empresas do Mercado Imobiliário de Minas Gerais (CMI/Secovi-MG), Evandro Negrão de Lima Júnior, confirma que a oferta é reduzida.

Segundo a coordenadora de Pesquisa da Fundação Ipead, Thaíse Martins, devido à insuficiência de espaços em BH, as construtoras consideram ser mais viável fazer apartamentos de dois ou três quartos. De novembro de 2011 a abril do ano passado, 21 imóveis novos estavam à venda. Em maio eram cinco. Em novembro foi comercializada a última unidade ofertada pelas 46 empresas pesquisadas. Desde então não foram encontrados mais imóveis de um quarto. “Tinha estoque. Ele foi diminuindo e não foi reposto”, afirma. Mas o total de apartamentos à venda – de dois, três e quatro quartos e coberturas –, oferta recorde em setembro. Foram 2.174 unidades, o volume mais alto nos últimos dois anos.

A falta de oferta pode ser vista como uma perda de oportunidade pelas construtoras. Segundo o Ipead-UFMG, o número de quartos está inversamente ligado ao valor do metro quadrado. Em um apartamento de quatro quartos em um bairro de classe média alta e com acabamento de luxo, o metro quadrado sai por R$ 5.579. O imóvel com mesmo padrão, mas com três quartos, tem o mesmo espaço avaliado em R$ 5.681, enquanto a área em um apartamento de dois quartos sai por R$ 5.718. O de um dormitório não aparece porque não é ofertado.

Outra realidade

Enquanto em BH uma lei impede a oferta de imóveis pequenos, em outras metrópoles o “estilo de vida japonês”, em espaços cada vez mais reduzidos, é sinônimo de praticidade. Em São Paulo, as construtoras têm investido em compactos. São imóveis de quarto, sala e banheiro na área individual, mas com opções de interação nas áreas comuns. Os serviços se assemelham aos de um hotel. “Não importa o tamanho do espaço, o metro quadrado em um apartamento”, afirma o diretor-executivo da Vitacon, incorporadora da capital paulista, Alexandre Lafer Frankel.


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