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Estado de Minas QUE TAL UMA XÍCARA DE DEBATES?

Evento em BH discute o futuro da cafeicultura

Evento ocorre de hoje a quinta-feira. Reunião inédita vai comemorar os 50 anos da Organização Internacional do Café


postado em 09/09/2013 00:12 / atualizado em 09/09/2013 08:03

Um terço do grão consumido no mundo é produzido no Brasil (foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press - 8/5/12 )
Um terço do grão consumido no mundo é produzido no Brasil (foto: Jackson Romanelli/EM/D.A Press - 8/5/12 )

De hoje até quinta-feira Belo Horizonte se transforma na capital mundial do café. Além de sediar a semana internacional do grão, no Expominas, junta-se ao evento a reunião que comemora os 50 anos da Organização Internacional do Café (OIC). Esta é a primeira vez que a entidade, com sede em Londres, na Inglaterra, traz o encontro para Minas, maior produtor e exportador mundial da commodity. Durante a reunião da OIC em Minas serão traçadas diretrizes para a cafeicultura na próxima década, o que reúne desde aspectos como técnicas de produção e novas tendências do mercado consumidor até a política de defini;’ao de pre;o do produto. Sujeita ao mercado internacional, a cotação da saca é o grande drama do setor.

A Semana Internacional do Café se consolida como espaço de negócios. A previsão é de que somente durante o encontro sejam movimentados R$ 5 milhões em compra e venda do grão. Em 2011 o café atingiu preço recorde no mercado internacional, mas já em 2012 passou a conviver com cotações em baixa. Queda que se mantém acentuada este ano. “Esse será um dos temas de debate na Semana Internacional do Café, já que o atual preço da saca é muito preocupante”, diz Elmiro Nascimento, secretário de Agricultura Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais.

De janeiro a julho, as exportações brasileiras da commodity cresceram 17% em volume, mas tiveram queda de 13,3% no valor, ambos comparados ao mesmo período em 2012. O recuo é influenciado pelo câmbio, mas há também forte conteúdo de especulação em relação ao resultado da safra que virá. “Essa especulação do mercado é péssima para o produtor”, aponta Robério Oliveira Silva, diretor-executivo da OIC. Segundo ele, os estoques mundiais de café estão relativamente baixos, estimados em 40 milhões de sacas para 12 meses, frente a um consumo mundial 145 milhões de sacas/ano, o que não seria uma justificativa para a queda de preços

O café ocupa destaque na balança comercial brasileira, sendo a sétima commodity em receita. De janeiro a julho o país exportou US$ 3,1 bilhões do produto, ou 968,4 mil toneladas. José Augusto de Castro , presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB), diz que o sistema tributário brasileiro estimula a exportação do produto in natura, no entanto é o café solúvel que se mostra mais valorizado. De acordo com o especialista, quando a pauta é estratificada em tipos de café, nota-se que a receita do produto em grão recuou 28% de janeiro a julho, frente a igual período do ano passado, enquanto a queda do solúvel foi menor, de 11%.

De hoje a quinta-feira, a Semana Internacional do Café vai promover uma série de eventos para o produtor. A reunião da OIC vai traçar um panorama do café na próxima década. Mas vai haver também congresso técnico, e todos os temas ligados à cadeia vão estar na pauta da semana. Haverá debates que vão desde as novas tendências mundiais de consumo, as formas de agregar valor ao produto até a certificação do café. Um dos pontos altos das semana será a rodada de negócios promovida pelo Sebrae-Minas. Elmiro Nascimento lembra que a OIC reúne 77 países e esta é uma oportunidade para compradores de vários localidades do mundo conhecerem o produto nacional.

A rodada de negócios vai envolver 120 cafeicultores brasileiros e 20 compradores, sendo 12 deles internacionais, especialmente dos Estados Unidos, Holanda, Suécia e Austrália. Priscilla Lins, gerente da Unidade de Agronegócio do Sebrae, explica que a escolha dos compradores se dará pelo tradicional cupping (degustação do café). Segundo Elmiro Nascimento, a visita dos compradores vai se estender até as regiões produtoras, onde eles conhecerão todo o processo da produção nacional.

HERANÇA
João Sidney Filho é proprietário da Fazenda Esperança, em Campos Altos, no Alto Paranaíba. Aos 94 anos, ele conhece de perto os altos e baixos de mercado e hoje chega a Belo Horizonte para participar da Semana Internacional do Café, onde em que irá acompanhar os eventos técnicos e as rodadas de negócios. João Sidney ainda rapaz, ajudou o pai, também cafeicultor, a se refazer da crise de 1929.

O cafeicultor, que exporta o grão verde especial para Holanda e Estados Unidos, e já tem prospeção para vender o produto também para a França e Itália, acredita que se desvencilhar da formação de preços internacionais é uma saída que desponta para o produtor de cafés especiais, que pode ser seguida por outros segmentos da cadeia. “Os preços de hoje, perto de R$ 300, não pagam o custo do produtor.” Segundo João Sidney, a cotação do café especial não sofre grandes oscilações, já que está descolada das bolsas internacionais, favorecendo o produtor em tempos de valores baixos. Ele acredita também que a mecanização é a nova tendência. “Vamos fazer um financiamento e iniciar a colheita mecanizada na Fazenda Esperança.”

Espaço para grão, bebidas e muito mais

João Sidney Filho e Bruno de Souza fazem prova da bebida: amor pelo café passa de pai para filho (foto: Ivan Totti / Divulgação)
João Sidney Filho e Bruno de Souza fazem prova da bebida: amor pelo café passa de pai para filho (foto: Ivan Totti / Divulgação)
Durante a Semana Internacional do Café vai acontecer o 8º Espaço Café Brasil, a maior feira voltada para o agronegócio do setor na América Latina, com espaço em sua programação para visitas técnicas às tradicionais regiões cafeeiras de Minas Gerais. O espaço vai reunir uma vasta programação para toda a cadeia produtiva, do cafeicultor aos compradores internacionais. Dentro do espaço vão ocorrer rodadas de negócio, campeonato brasileiro de baristas e de preparo de cafés, escolha do Café do Ano 2013, além de uma série de exposições de interesse para o setor, como máquinas e equipamentos.

Bruno Sidney de Souza, proprietário da Academia do Café em Belo Horizonte, aprendeu com seu pai, João Sidney Filho, a correr atrás de alternativas para melhorar a cafeicultura. Para ele, um dos pontos fortes da Semana Internacional será o 8º Espaço Café Brasil. “Dentro do espaço, além de encontros técnicos, será possível conferir todas as novidades do setor, envolvendo máquinas, modelos de cafeterias, concursos de baristas de provas de café, além de exposição de grãos de diversas regiões do país.” Segundo Bruno Souza, outro destaque será o 3º Encontro de Cafés Naturais. “Cerca de 70% do café produzido no Brasil utiliza o modelo. O grão é seco com sua casca externa. Essa é uma nova ‘moda’, que começa a retornar mundialmente”, aposta.

Para o especialista, a certificação do café iniciada em Minas Gerais também estará em debate e é outro ponto importante para a cadeia. “Para ter o café certificado o produtor passa por várias etapas, o que lhe agrega grande conhecimento, melhora em sua qualidade e produtividade.”

O primeiro lote de cafés arábica certificado pelo programa mineiro Certifica Minas foi negociado pela alemã Tchibo. Flávia Paulino da Costa, gerente de Exportação da Exportadora Guaxupé, que intermediará o negócio, diz que a meta é atingir 50 mil sacas até julho do ano que vem, quando se encerra o ano-safra. “Percebemos que a demanda pelo café certificado é cada vez mais forte no mercado internacional”, comenta. (MC)

Três perguntas para...


Robério Oliveira Silva - Diretor-executivo da Organização Internacional do Café (OIC)

O que explica os atuais preços em queda do café e como o câmbio pode interferir na cotação da commodity? A maior produção de países como o Vietnã pode ser uma justificativa para o recuo de preços?

Há muita especulação quanto ao tamanho da safra, o que vem sempre em desfavor do produtor. A OIC produz informações em tempo real. Vamos divulgar essas estatísticas durante a Semana Internacional do Café. Buscamos um meio de unir os diversos bancos de dados, produzidos por entidades diferentes. Essa é uma forma de reduzir as especulações. A concorrência entre os países exportadores de café sempre existiu, mas o Brasil é o maior produtor mundial, nesse sentido não pode reclamar de ninguém. Quanto ao câmbio, o câmbio é café e o café é câmbio. Durante a reunião da OIC vamos discutir políticas para o setor, sem abordar esse tema, porque ele é de tal forma volátil que só faz aumentar a volatilidade no mercado.

Como o café brasileiro pode enfrentar os preços baixos? O marketing mais forte pode ajudar a mudar esse cenário?
A definição de políticas para o setor, o cenário que teremos na próxima década será uma das discussões durante a Semana Internacional do Café. Certamente o marketing pode ajudar a garantir o preço e ele deve ser feito pelo setor produtivo, não pelo governo. O Brasil não gasta quase nada com o marketing. Para se ter ideia, a Colômbia investe US$ 55 milhões nos mercados americano, brasileiro, europeu e asiático.

Por que o café brasileiro tem tarifas no mercado europeu enquanto outros grandes produtores são isentos? Quais são os novos mercados para o produto nacional?
O Brasil é visto como uma economia em crescimento e expansão, daí não ser incluído na política de preferências do mercado europeu, que isenta de taxação o produto de países pobres. O consumo de café cresce ao ritmo de 2,5% ao ano e existem também mercados em expansão, como o chinês, coreano e o do Leste europeu.

 


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