Brasília – O Brasil registrou a maior fuga de recursos para meses de agostos em 15 anos e amargou um saldo negativo de US$ 5,85 bilhões. O fluxo cambial, que vinha positivo até a última semana, se inverteu sobretudo na conta financeira porque os bancos precisaram pagar empréstimos contratados no exterior em 2011 com vencimento no mês passado. Apesar do déficit acumulado, economistas divergem se esse movimento se repetirá nos próximos meses e o governo garante que o país continua atraente para investimentos.
Dados do Banco Central divulgados ontem mostram que o resultado negativo se deu pela soma da conta financeira —investimentos estrangeiros diretos, em títulos e outras modalidade —, que foi deficitária em US$ 3,99 bilhões, e a comercial, que acumulou perdas de US$ 1,85 bilhão. Na avaliação da equipe econômica, não há fuga de recursos porque os bancos apenas quitaram empréstimos tomados em 2011, quando precisaram de dólares para se ajustar a uma norma do BC que reduziu a especulação com a moeda com cobrança de Imposto sobre Operação Financeira (IOF) de 6%. Com essa taxação sobre dívidas externas de até dois anos, as instituições financeiras fizeram operações superiores a esse prazo.
Na avaliação do economista-sênior do Espírto Santo Investiment Bank, até a última semana de agosto o fluxo cambial não era ruim, mas a curva se inverteu de maneira significativa. Para ele, esse movimento é um ponto fora do curva, mesmo com o cenário internacional conturbado. Serrano considera que neste momento de cautela os agentes financeiros tendem a se proteger das perdas com uma fuga para países mais atraentes.
EM ALERTA Em meio ao cenário mundial instável, o Fundo Monetário Internacional (FMI) vai aproveitar o encontro de líderes do G20 – grupo das 19 principais economias desenvolvidas e em desenvolvimento, mais a União Europeia –, que ocorre esta semana em São Petersburgo, na Rússia, para fazer um alerta dos riscos que as nações emergentes correm em função da recuperação dos países industrializados.
Na avaliação do Fundo, os países desenvolvidos deverão liderar o crescimento global, enquanto os emergentes correm o risco de continuar desacelerando por conta da mudança da política monetária dos Estados Unidos. O Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos EUA, sinalizou em maio que pode suspender o programa no qual coloca US$ 85 bilhões por mês no mercado. Além disso, deverá elevar as taxas de juros dos títulos americanos em decorrência da expansão da economia do país nos últimos meses, conforme reforçou o chamado Livro Bege, divulgado ontem pelo Fed. Tal mudança já mexe com os mercados que apostam que essas medidas deverão ocorrer em 2014 e as moedas dos países emergentes, como Brasil, Índia e Indonésia, tiveram forte desvalorização desde então.