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Estado de Minas

Metade dos brasileiros não tem plano de saúde

Pesquisa mostra que grande parte dos brasileiros ainda não contam com cobertura para atendimento. Entre esses, 77% dizem que a maior barreira de acesso ao serviço é o preço


postado em 16/08/2013 06:00 / atualizado em 16/08/2013 07:17

A microempresária Michele Almeida contratou um miniplano para funcionários da sua loja e se diz satisfeita(foto: Jackson Romanelli/EM/DA Press - 8/10/09)
A microempresária Michele Almeida contratou um miniplano para funcionários da sua loja e se diz satisfeita (foto: Jackson Romanelli/EM/DA Press - 8/10/09)


Brasília – Os aumentos anuais dos convênios de saúde tornam o serviço inviável para o bolso de muitos brasileiros. Uma pesquisa de opinião encomendada pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) mostra que os planos têm virado artigo de luxo: entre os que conseguem pagar pelo item, a maioria tem renda superior a três salários mínimos, grande parte deles pertencentes à classe B.

Além disso, ao contrário do perfil mostrado pelos que não possuem vínculo com operadoras de saúde, a maior parte dos que têm o convênio são trabalhadores com carteira assinada (veja quadro). A pesquisa, que levantou dados sobre a fidelização dos beneficiários às operadoras, leva em consideração apenas os planos médico-hospitalares — um universo de cerca de 44 milhões de beneficiários — e desconsidera os exclusivamente odontológicos. Foram entrevistadas 3.233 pessoas em todo o país e dessas 1.656, ou 49,8%, não são beneficiárias de convênios médicos.

A parcela dos entrevistados que ficam de fora dos convênios culpam os preços altos. Para 77%, os valores cobrados pelas operadoras vão além do que o orçamento permite. Não fossem os preços, a grande maioria faria, sim, questão de um plano de saúde. Mais de 70% da amostra que afirmou não possuir o item valoriza o serviço e gostaria de tê-lo. Além disso, o levantamento mostra que, para os entrevistados de forma geral, os convênios aparecem em terceiro lugar na lista de prioridades, atrás apenas de educação e casa própria.

Com a renda familiar estimada em cerca de R$ 3,2 mil, o motoboy Márcio Barbosa, 30 anos, lamenta não ter condições de adquirir plano de saúde. “Moram seis pessoas em casa. Hoje, só eu e meu pai trabalhamos”, disse. Com quase R$ 1,9 mil de despesas entre aluguel, água, luz e prestação do carro, não sobra muito para custear com convênios para todos os integrantes da família. “Cada um ajuda com o que pode, não sobra nada para outros gastos além do básico”, lamentou.
No entanto, Márcio e os irmãos começam a se preocupar com o pai, que está com 60 anos. “Por enquanto ele não apresenta muitos problemas de saúde. Nunca se sabe quando ele pode entrar em uma fase mais apertada”, avaliou. “Mas os convênios estão muito caros. Vamos pesquisar bem e contratar algum no melhor custo-benefício”, acrescentou.

Desvinculamento Ainda segundo a pesquisa, 43% das pessoas que não estão vinculadas à uma operadora já possuíram um plano de saúde, mas deixaram de pagar pelo serviço. O risco de que, com os anos, conveniados deixem os planos em razão da escalada dos preços ou o crescimento do setor seja afetado já é considerado pelas operadoras. O presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), Arlindo de Almeida, chegou a afirmar que “vai haver uma dissociação muito grande entre o que a pessoa recebe e o que ela precisa pagar para ter um convênio, e, em algum momento, ela pode não ter mais condições de custear o plano”.

Segundo estudo do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), em três décadas as mensalidades dos planos devem sofrer um aumento médio de 163,5% acima da inflação, caso o setor siga o comportamento dos últimos 10 anos. Com isso, o comprometimento da renda dos beneficiários aumentaria 66%.

A estudante Josilene Pereira de Oliveira, 30 anos, teve plano de saúde por dois anos enquanto trabalhou em um hipermercado, há oito anos. “Depois disso deixei de ter, porque não consigo pagar. E na idade em que estou faz falta”, considerou. A renda da casa, de R$ 1,2 mil, vem do pai, que trabalha como vendedor autônomo. Na falta do benefício, a estudante encontra na fé e em medicinas alternativas a forma de driblar os problemas de saúde. “Rezo bastante e dou meu jeito. Quando tenho inchaço nas pernas me medico com suco de abacaxi”, contou ela, que também está com cálculo renal.
    
Custos A Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fenasaúde) afirmou, em nota, que, de fato, “quanto maior a renda da população, maior a adesão ao item plano de saúde”, mas “as classes B e C, que hoje concentram a maior parte da população brasileira, vêm registrando maior adesão aos planos de saúde”. A federação ressaltou ainda que “o valor do plano de saúde deve refletir os custos assistenciais do setor, de modo a garantir o equilíbrio econômico dos contratos”.

Risco maior com preço mais baixo

O chamado miniplano corporativo, formado por grupos com três ou quatro beneficiários, está abrindo caminho mais barato até os convênios médicos e já representa 77% dos planos coletivos comercializados no país. Mas a modalidade que atrai consumidores especialmente pelo preço da mensalidade (podem chegar a custar 50% menos que um plano individual) está na mira das entidades de defesa do consumidor, que classificam os contratos como de alto risco e querem endurecer as regras do setor. Os pequenos convênios têm reajustes livres e podem ser rescindidos de forma unilateral.


No país as micro e pequenas empresas formam um universo de quase seis milhões de negócios que empregam mais de 14 milhões de brasileiros. Menos de 10% desses empreendimentos formais contratam planos de saúde. Com o mercado para lá de promissor, as operadoras desenharam produtos específicos e estão investindo alto. “O risco desses contratos é que eles reúnem o pior dos grandes planos coletivos, que é o reajuste não controlado, e o pior dos individuais, a rescisão unilateral”, diz Joana Cruz, advogada do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).


Segundo Joana Cruz pesquisa realizada pelo Idec apontou que a resolução da ANS obrigando as operadoras desde maio a agrupar todos os seus contratos com até 30 vidas em um único grupo, calculando percentual também único de reajuste, não surtiu o efeito esperado. Levantamento da entidade revela que a média dos reajustes para esses planos foi de 11,9% acima do teto máximo admitido pela agência para os planos individuais no período entre maio de 2013 e abril de 2014 de 9,04% . “Em alguns casos o reajuste ultrapassou 20%. O aumento de preço para esses planos deveria seguir um teto ou eles podem se tornar inviável para o consumidor com o passar do tempo.”


A empresária Michele Almeida tem uma loja de cosméticos e produtos para o corpo na Savassi onde contrata três funcionárias. Há pouco menos de um ano ela foi procurada por um plano de saúde que lhe explicou as vantagens do produto. Convencida, Michele contratou o convênio para um grupo de três beneficiários. A iniciativa agradou sua equipe. A empresária divide o custo da mensalidade com as funcionárias, pagando 50% do valor, em média R$ 90 por mês para o grupo. “Acho que o produto compensa pelo seu efeito positivo. As vendedoras ficaram muito satisfeitas em ter um plano de saúde”, resume.


Segundo a ANS, a publicação da Resolução Normativa 309/2012 teve como finalidade proteger os beneficiários de contratos com número reduzido de pessoas, a partir do momento em que obrigou as operadoras a aplicar um único índice de reajuste para todos os contratos de planos coletivos com até 30 beneficiários. “A ANS considera prematuro calcular os resultados práticos da Resolução já que a norma começou a vigorar em maio desse ano”, ressaltou em nota.

 


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