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Estado de Minas

Famílias de BH estão menos endividadas

Alta dos preços reflete nas contas domésticas e demanda por crédito perde fôlego no ano. Estimativa do PIB recua


postado em 16/07/2013 06:00 / atualizado em 16/07/2013 07:16

A economia do país não pode mais contar com o consumo das famílias para crescer. Todos os indicadores têm confirmado o arrocho provocado pela inflação nas contas domésticas. Ontem, a Serasa Experian indicou a desacelaração da demanda por crédito, reflexo do freio na aquisição de bens e serviços: o aumento de 8,7% acumulado em 2013 até abril despencou para 6,4% em maio e caiu para 6,1% no mês passado.

Atento ao endividamento recorde dos brasileiros e às improváveis chances de melhora nesse quadro a curto prazo, o mercado reduziu pela nona vez consecutiva a estimativa de alta do Produto Interno Bruto (PIB) este ano. De acordo com o Boletim Focus, também divulgado ontem pelo Banco Central, os principais analistas acreditam em avanço de 2,31%, contra 2,34% na semana anterior. É a menor previsão do ano.

Das 28 medições feitas pela autoridade monetária em 2013, o mercado só aumentou a expectativa de crescimento do país em três delas. Confiante na continuidade do avanço baseado no consumo, o governo se encontra agora numa situação delicada, na avaliação de especialistas. No primeiro trimestre, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o consumo das famílias, responsável por turbinar a economia num passado recente, se manteve praticamente estável – em 0,1%. Para o restante do ano, vislumbram-se resultados não muito diferentes.

Em nota, a Serasa adiantou que o movimento de desaceleração do crédito tende a prevalecer ao longo dos próximos meses por causa do processo de elevação da taxa básica de juros em curso pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, na tentativa de conter a inflação. A Selic – hoje em 8,5% ao ano, após três aumentos – pode chegar a dezembro em 9,25%, prevê o mercado. A estimativa foi a mesma captada pelo BC na última medição.

Os juros mais altos, lembra Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC), encarecem o crédito e, como consequência, ajudam a arrefecer o consumo. “O cenário é mesmo muito difícil”, diz ele, antes de elencar outras travas, como a recente alta do dólar, o fim de benefícios fiscais concedidos a alguns setores e, sobretudo, a alta de preços. Para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), usado indicador oficial, houve ligeiro recuo pela segunda vez, chegando a 5,80%, segundo o Focus. De todo modo, acredita Bente, uma provável desaceleração da carestia não conseguirá desinibir o consumo neste segundo semestre. “A alta do dólar ainda não foi repassada aos produtos importados ou com itens de fora”, detalha o economista.

Empréstimos mais caros

Os custos dos empréstimos bancários estão cada vez mais elevados. A taxa média dos financiamentos subiu 0,02 ponto percentual, passando de 5,43% ao mês em maio para 5,45% ao mês em junho, de acordo com a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Com essa elevação, os juros anuais de uma operação de crédito para pessoa física passaram de 88,61% em maio para 89,04% em junho – a maior taxa desde novembro de 2012, de acordo com a instituição.

Ao mesmo tempo em fica mais caro se endividar, o volume de automóveis e veículos leves novos vendidos a crédito cresceu. No primeiro semestre, as vendas de automóveis financiados subiu 2% em relação ao mesmo período de 2012, para 1,06 milhão de unidades, segundo dados da Cetip, operadora do Sistema Nacional de Gravames (SNG). No total dos veículos financiados, entretanto, houve queda de 3% de janeiro a junho, quando foram financiados 3,2 milhões de veículos. (Colaborou Rosana Hessel)

BH: 62% das famílias endividadas

Belo Horizonte é a quinta capital brasileira com o maior número de famílias endividadas (477,46 mil), atrás de São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Curitiba. Apesar de estar entre as primeiras colocadas no ranking, o número caiu 10,3% no ano passado em relação a 2011, quando a cidade contava com 532,25 mil famílias endividadas. O valor médio da dívida por família registrado em BH foi de R$ 2,47 mil em 2012, contra R$ 2,30 mil no ano anterior (veja quadro). A taxa média de endividamento das famílias na capital mineira é de 62%, ante 69% em 2011, revela estudo divulgado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de São Paulo (Fecomercio-SP).


No Brasil, os indicadores da Fecomercio-SP apontam que 59% das famílias brasileiras tinham débitos no ano passado e estavam com 30% do orçamento comprometido para pagar esses compromissos. Para Altamiro Carvalho, assessor técnico da Fecomercio-SP, apesar de os dados não serem alarmantes, o cenário econômico conturbado pode atrapalhar essa situação. Ele explicou que a alta da inflação obrigará o Banco Central a aumentar a taxa básica de juros (Selic) e isso encarecerá ainda mais o crédito. “Selic maior diminui os estímulos financeiros as empresas, que faturam menos, demitem funcionários que não poderão honrar seus compromissos”, completou.

Para o professor de economia da Universidade de Brasília (UnB) José Matias Pereira, o consumidor precisa ficar atento antes de comprometer sua renda. “Temos uma economia com crescimento abaixo do necessário e inflação em alta. Isso sinaliza tempestade no futuro que pode resultar em aumento do desemprego. As famílias não podem se endividar apenas para consumir”, disse.

Geane comprou uma lavadora de roupa, mas atrasou as prestações(foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Geane comprou uma lavadora de roupa, mas atrasou as prestações (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Contas em dia

Geane Neves Santiago mora na casa da mãe, em Belo Horizonte, com o marido e dois filhos, e está desempregada desde março, quando saiu do trabalho para fazer uma cirurgia de varizes. Ela trabalhava como auxiliar de cozinha. Enquanto não arruma outro trabalho, faz serviço de faxineira. O marido trabalha como mobotoy e tem renda mensal de R$ 800.
Geane sonha comprar um carro e a casa própria, mas por enquanto afirma que é preciso colocar as contas em dia antes de assumir qualquer financiamento. Recentemente, ela comprou uma lavadora de roupa para a casa. Pagava R$ 106 de mensalidade, mas como ficou desempregada, atrasou os pagamentos e teve que renegociar a dívida com a loja que vendeu o eletrodoméstico. “Agora pago um pouco de juros, mas só faltam duas prestações”, diz. 


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