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Estado de Minas QUALIFICAÇÃO

Crédito educativo mantém alunos nas universidades

Para especialistas, financiamento estudantil reduz muito o número de alunos que deixam a faculdade, além de alavancar o PIB, a produtividade e o grau de inovação no mercado


postado em 17/06/2013 07:15 / atualizado em 17/06/2013 08:43

"Só me formei porque tive o Fies. Com a graduação,consegui um emprego muito bom e minha renda ficou quatro vezes maior", diz Natália Teixeira Santos, administradora de empresas (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A Press )
Juliana Maria dos Santos, técnica em enfermagem, ainda não chegou ao fim do curso superior que lhe dará o diploma de graduação na área e o esperado emprego qualificado, com rendimento maior que o atual salário de R$ 678. Aos 24 anos, ela poderia se formar no fim do ano que vem, mas seu sonho foi atropelado pelo preço da mensalidade da faculdade particular, R$ 794, alto demais para seu nível de renda. Como 50% dos estudantes brasileiros aprovados em instituições privadas de ensino superior, ela desistiu do curso depois de três semestres e não conseguir o crédito para estudar. Em agosto, Juliana vai tentar de novo. “Vou me candidatar e, se conseguir o financiamento, me formo. É meu sonho.”

Indicador vital da produtividade, qualificação e da renda do trabalhador, o ensino superior no país ainda tem baixo patamar de financiamento. Perto de 20% dos alunos matriculados utilizam algum tipo de crédito, seja público ou privado. “A demanda é bem maior que isso. Cerca 50% dos estudantes que estão matriculados no ensino superior privado precisariam do financiamento”, garante Rafael Baddini, diretor de Marketing da Ideal Invest, que opera o crédito Pravaler, ferramenta do setor.

O crédito estudantil é um dos fatores também para combater a alta taxa de evasão no ensino superior. Nas instituições privadas, o percentual de abandono chega a 53% e o crédito, segundo especialistas, está entre as armas que podem trazer esse índice para perto de 40%. “Certamente, o financiamento é uma das ferramentas importantes para levar o estudante a concluir o curso. No Brasil, ele deveria ser concedido a priori, ou seja, antes de o estudante ingressar no curso”, defende Roberto Lobo, presidente do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia.

A aprovação prévia, segundo Lobo, garante ao estudante iniciar a graduação com os valores já contratados, o que amplia suas chances de permanecer no curso, o contrário do que ocorreu com Juliana Santos, que, como não conseguiu concretizar a expectativa de crédito, foi forçada a deixar a faculdade. “A qualificação tem impactos no grau de inovação do país, reflete-se na renda e no Produto Interno Bruto (PIB)”, reforça o especialista. Para o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais, o reforço na política do crédito estudantil elevaria o percentual daqueles estudantes que entram na faculdade e concluem o curso para perto de 70%.

Pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com base no Cadastro Central de Empresas (Cempre), mostra que, no Brasil, os assalariados com nível superior chegam a ter renda 219,4% superior àqueles com menos tempo de estudo. Indicador da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) feito entre 30 países revelou que, entre os observados, o Brasil foi onde se registrou maior relação entre curso superior completo e elevação no salário. Depois do diploma, o crescimento da renda do brasileiro chega a 156%.

EMPREGABILIDADE O curso superior faz crescer também a empregabilidade para aqueles que conseguem chegar ao diploma. Segundo relatório divulgado pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), enquanto 68,7% dos brasileiros sem ensino médio estão no mercado de trabalho, a taxa avança para 77,4% entre aqueles que concluíram a formação e para 85,6% entre os trabalhadores com curso superior completo.

É o caso de Natália Teixeira Santos. Ela foi a primeira de sua família a ingressar no ensino superior. Aos 35 anos, prepara-se para concluir o pagamento do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), crédito do governo federal, no ano que vem. Natália financiou o volume de R$ 30 mil, a juros de 6,5% ao ano – que depois caíram para 2,5% ao ano –, o que garantiu o seu diploma no curso de administração de empresas. “Só me formei porque tive o Fies. Com a graduação, consegui um emprego muito bom e minha renda ficou quatro vezes maior. O curso superior foi decisivo para conseguir trabalho, comprar um carro e a casa própria”, aponta.

No Brasil, o volume de crédito movimentado pelo Fies, linha do governo federal, atingiu R$ 16,1 bilhões em 2012, e até março deste ano o volume chegou a
R$ 8,5 bilhões. Para especialistas, o montante por ano teria espaço para dobrar, se considerada a demanda dos estudantes. “O crédito educativo, no Brasil, está entre as linhas que movimentam os menores volumes de recursos. Nos Estados Unidos, ele só perde para o crédito imobiliário”, compara Baddini.

A estudante Grazielle Hellen Souza, de 17, foi aprovada no vestibular para engenharia civil e conseguiu financiar 50% do valor do curso. A mensalidade, que hoje é de pouco mais de R$ 1 mil, cai para R$ 500. “O Fies me ajudou demais, porque o valor do curso é realmente muito alto. Com a opção de financiar 50%, vou conseguir me formar com mais tranquilidade.”

Verba para escolher bem

Segundo pesquisa da Ideal Invest realizada no ano passado com seus beneficiários do crédito privado para financiamento do ensino superior, 86% dos estudantes afirmaram que não fariam o curso em que estavam matriculados se não tivessem a opção de financiar a educação; outros 48% responderam que nem sequer estariam estudando sem a ajuda; 31% disseram que fariam um curso mais barato ou com menos créditos/matérias ou em outra instituição de ensino; e 7% só fariam o curso atual com outra bolsa ou outro crédito. A pesquisa também demonstrou um novo momento do país: 65% dos alunos que usaram o crédito eram os primeiros da família a cursar a educação superior.

Emiro Barbini, presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), acredita que o crédito educativo pode reduzir a evasão escolar consideravelmente, para perto de 30%. Ele também aponta que políticas de financiamento estudantil pagas com o trabalho do estudante no serviço público, após a formatura, têm impacto positivo. “Essas políticas deveriam ser ampliadas para diversas áreas além da saúde, onde estão hoje concentradas.”

CURSO CERTO Roberto Lobo, presidente do Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia, diz que outro efeito positivo do crédito sobre a evasão é que ele leva o estudante a escolher o curso que realmente quer fazer, em vez de optar por aquele que tem custo menor. “Uma outra razão da evasão é a escolha errada na educação superior.”

Estudioso do tema, Lobo diz ainda que, para o governo cumprir suas metas de elevar o percentual de estudantes entre 18 e 24 anos no ensino superior, outro investimento forte terá que ocorrer no ensino médio, que abastece a graduação com estudantes, mas que também sofre com taxa de evasão próxima a 50%. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 7,9% da população brasileira tem curso superior. (MC)

Fiés

O Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) é um programa do Ministério da Educação destinado a financiar a graduação na educação superior de estudantes matriculados em instituições privadas. Podem recorrer ao financiamento os estudantes matriculados em cursos superiores que tenham avaliação positiva nos processos conduzidos pelo Ministério da Educação. Criado em 2010, o Fies já promoveu contratos de financiamento para 760 mil estudantes. Este ano foram cerca de 160 mil contratos e o volume total de recursos investidos chegou a quase R$ 25 bilhões até o fim de 2012. Os financiamentos são feitos com o Banco do Brasil e com a Caixa Econômica Federal. A taxa efetiva de juros do Fies é de 3,4% ao ano para todos os cursos, segundo dados do Ministério da Educação.


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