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Estado de Minas

Construtoras caçam imóveis distantes da Avenida do Contorno

Forma encontrada para construir edifícios na Zona Sul é com a demolição de outro ou dos casarões antigos


postado em 02/04/2013 06:00 / atualizado em 02/04/2013 00:30

Na Zona Sul de Belo Horizonte, os terrenos virgens são raros. A única forma encontrada para construir algum edifício é com a demolição de outro ou dos casarões antigos. Os proprietários desses imóveis, no entanto, pedem preços milionários, o que inviabiliza os negócios. Agora, o movimento que ocorreu na Zona Sul da capital se repete em bairros fora do cinturão da Avenida Contorno. Mas a disponibilidade dos moradores para deixar as casas onde moraram por toda a vida, no entanto, também tem sido pequena. Não sai barato adquirir os cobiçados casarões de ruas até então tranquilas e tradicionais. É o que trata a última reportagem da série “Fora do eixo” publicada pelo Estado de Minas desde sexta-feira.

 

A escassez de terrenos em Belo Horizonte leva as imobiliárias e construtoras a voltar os olhos para os casarões de bairro fora da Zona Sul da capital. Os imóveis, muitas vezes de moradores antigos, que criaram a família na região, não estão à venda. Mas começam a ser cobiçados, assim como ocorreu com os casarões da Zona Sul, onde o cadeado hoje nos portões e a campainha em local escondido mostram que os imóveis estão fechados para intrusos, desconhecidos e principalmente quem pretende comprá-los, não importa o valor.

Bairros como Itapoã, Prado, Cidade Nova, Floresta, Santa Tereza e Santa Efigênia são os novos alvos das empreiteiras, que buscam achar o “rato” (apelido dado aos terrenos disponíveis para construção). “O setor está à procura do rato, que pode estar em qualquer lugar. Na Zona Sul não existe mais terreno, até os pequenos prédios estão sendo substituídos”, afirma Teodomiro Diniz Camargos, presidente da Câmara da Indústria da Construção da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Mesmo fora da Zona Sul, diz, a demolição tem sido a alternativa encontrada por muitas construtoras.

Se forem depender da boa vontade dos moradores dos casarões, no entanto, os interessados nos terrenos vão ter que abrir a mão na hora de pagar. Por enquanto, o assunto de venda chega a ser motivo de desgosto para muitos proprietários. “Quase todos os anos as construtoras me procuram, mas nunca cheguei nem a discutir valores. Sempre falei não”, afirma o artista plástico Máximo Soalheiro, dono de duas casas no Santa Tereza.

Em uma das casas, Soalheiro tem seu ateliê, em área de 1 mil metros quadrados na esquina das ruas Almandina com Cristal, área nobre do bairro. “Aqui está perto de tudo e tem uma característica um pouco interiorana. Eu não uso dinheiro e nem cartão de crédito para as compras no bairro. Anoto a conta na caderneta no açougue, supermercado, sacolão e nas lojas de material de construção”, conta Soalheiro.

O ateliê do artista ocupa dois terrenos, que são bem aproveitados com a oficina de cerâmica, máquinas tipográficas, preparação da argila e confecção de embalagens. “Tudo é feito lá, o que está até um pouco em desuso. Hoje tudo é terceirizado”, observa Soalheiro, que é um amante do bairro. “É bom estar em um lugar onde não tem muito prédio, há uma humanização.”

DESBRAVADOR O aposentado Mauro Secundino Moreira guarda até hoje o jornal no qual ele tem seu nome impresso informando que foi o quarto comprador de lote no Vairro Cidade Nova, onde está há 44 anos. “Aqui era uma fazenda da família Silveira”, lembra. Na casa que construiu em terreno de 360 metros quadrados, ele criou as quatro filhas, com a esposa. Em novembro do ano passado, o aposentado recebeu uma proposta tentadora de uma imobiliária: vender a casa por R$ 1 milhão. Mas resistiu.

“A minha filha ia ganhar um filho e estávamos na expectativa de que ela viria para cá, mas não veio”, conta Mauro. De qualquer forma, ele não mostra sinais de querer deixar a residência. “A casa foi uma conquista importante, gosto muito de morar aqui. Só sinto falta de teatro e cinema no bairro, mas aqui tem a Feira dos Produtores, supermercado, clínicas, igrejas, tem tudo”, diz.

Sem verticalização

O aposentado Eustáquio Roberto de Paula prefere morar em lugar com casas mais baixas, em vez dos arranha-céus. Ele e a família têm duas casas vizinhas na rua Cura d’Ars, no Prado. Cada uma tem 300 metros quadrados. Há pouco tempo, no entanto, uma casa vizinha em frente à dele deu lugar a um edifício. “Eu preferia que ficasse com casas mais baixas, para manter o estilo. Mas não adianta, estamos com um prédio em frente”, diz.

Eustáquio de Paula conta que chegou a ser sondado pelos construtores do prédio para a venda do seu imóvel, mas a família não teve interesse. “Não faz parte dos nossos objetivos sair daqui. Mas se o bairro verticalizar muito, pode ser que não seja mais interessante morar em casa”, conclui.

A aposentada Cecília Corrêa tentou não ceder ao assédio das construtoras, mas foi vencida pela vizinhança. Ela tinha uma casa no Bairro Itapoã, onde morou por 10 anos. “Uma construtora me ligou com oferta de comprar minha casa. No início, recusei imediatamente”, diz.

A resistência de Cecília, no entanto, durou pouco. Depois de alguns meses, começou a ser construído um edifício atrás da casa dela. Em seguida, outro na contraesquina. “Aí entrei de férias. Quando voltei, a casa ao lado tinha sido derrubada para dar espaço a uma torre de 10 andares. Ou seja, eram três prédios e a minha casa estava sofrendo muito com o bate-estaca das obras. Acabei vendendo”, afirma Cecília. Com o dinheiro, ela comprou um apartamento no Bairro Padre Eustáquio. “Morar em casa é melhor do que em apartamento. Mas os prédios muito altos no Itapoã tiraram a minha privacidade na varanda e no terreiro”, conta.

O diretor da área imobiliária do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), Bráulio Franco Garcia, afirma que da mesma forma que ocorreu na Zona Sul, os terrenos estão escassos nos bairros fora da avenida Contorno. “E nos bairros antigos há casas mais antigas, que não compensam a reforma. É melhor vender”, diz.

Depois da Lei 9.959, de Uso e Ocupação do Solo, o potencial construtivo dos terrenos foi reduzido entre 20% e 30%. Antes da lei, as construtoras tinham área maior para construir e podiam até pagar valor acima do preço de mercado pelo terreno. E os donos dos lotes compravam um imóvel melhor. Hoje, se o dono do terreno reduzir o preço cobrado, não consegue adquirir outro na mesma região ou similar. Ou seja, a equação ficou mais difícil de fechar. (GC)


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