(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Número de mineiros no Nordeste aumenta

Dados do IBGE mostram que entre 2000 e 2010 nascidos no estado vivendo no Rio, São Paulo e Espírito Santo diminuíram 17,8% e os que moram na parte de cima do mapa cresceram 6%


postado em 04/02/2013 00:12 / atualizado em 04/02/2013 07:47

Aprovada em concurso da Petrobras, Letícia Freitas deixou o interior do estado para trabalhar na Bahia, mesmo comopção de ir para São Paulo(foto: ARQUIVO PESSOAL)
Aprovada em concurso da Petrobras, Letícia Freitas deixou o interior do estado para trabalhar na Bahia, mesmo comopção de ir para São Paulo (foto: ARQUIVO PESSOAL)

Há um ano e 10 meses, a jovem Letícia Freitas, de 23 anos, deixou o aconchego da casa dos pais, na histórica cidade de Pitangui, no Centro-Oeste de Minas, depois de ser aprovada num dos concorridos concursos da Petrobras. A estatal lhe ofereceu dois destinos para assumir um cargo na área ambiental: São Paulo ou Bahia. “Optei por Salvador, onde avalio ter melhor oportunidade de crescer na carreira.” Letícia faz parte de uma estatística curiosa, levantada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com base nos censos de 2000 e 2010. Nesse período, houve redução no número de mineiros que moram nos outros três estados do Sudeste. Por outro lado, cresceu o total de mineiros que migrou para os nove estados do Nordeste.

Em São Paulo, a queda foi de 1,9 milhão para 1,6 milhão. No Rio de Janeiro, de 601 mil para 480 mil. No Espírito Santo, de 286,9 mil para 286,8 mil. No Nordeste ocorreu o inverso. Na Paraíba, o número de mineiros subiu de 2,4 mil para 3,9 mil. No Maranhão, de 10,2 mil para 10,7 mil. No Piauí, de 1,6 mil para 2,4 mil. No Ceará, de 5,4 mil para 6,3 mil. Em Alagoas, de 2,4 mil para 2,6 mil. No Rio Grande do Norte, de 4,2 mil para 4,8 mil. Em Sergipe, de 2,5 mil para 3,2 mil. Em Pernambuco, de 6,3 mil para 8 mil. Na Bahia, onde reside a jovem Letícia, de 192,7 mil para 199,5 mil. “Estou gostando muito daqui”, conta a jovem, destacando, contudo, que o tempo não reduz a saudade da família.

O número de mineiros vivendo nos demais estados do Sudeste caiu de 2.787.900 pessoas para 2.366.800, uma redução de 17,79%, enquanto os que vivem nos estados do Nordeste aumentaram 6,01%. A planilha do IBGE revela o saldo de mineiros em outros estados e não quantos deles entraram ou saíram desses lugares. Enquanto em 10 anos a população de mineiros nos três outros estados do Sudeste perdeu 421.100 pessoas, a dos estados do Nordeste teve um aumento de 13.700 homens e mulheres. Portanto, afirmam os especialistas, os números não permitem concluir que os mineiros trocaram São Paulo e Rio pelo Nordeste, mas mostram que, atraídos pelo crescimento dos estados da parte de cima do mapa do Brasil, rumam também para o Nordeste.

Desenvolvimento
Para ter ideia, pesquisa da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), vinculada à Presidência da República, constatou que a classe média dobrou, em sete anos, no Nordeste. Em 2003, 11 milhões de moradores de lá pertenciam a esse grupo. Em 2010, o saldo subiu para 20 milhões de homens e mulheres (aumento de 80%). Em outro estudo, o Instituto Data Popular concluiu que o Nordeste teve o maior crescimento da classe média: de cada 10 novos integrantes dela, três são do Nordeste.

A médica Astride Freitas, de 42 e nascida em Belo Horizonte, acompanha a evolução econômica daquela região. Ela se mudou para o Cariri, uma das áreas mais ricas do Ceará, há oito anos. De lá para cá, conta, chegaram a Juazeiro do Norte, terra de Padinho Ciço, empresas como Lojas Americanas, Riachuelo e McDonald’s. “Não havia (essas marcas) quando cheguei. Profissionalmente, no ramo médico, o Cariri está melhor do que BH, pois há mais oportunidades de trabalho. Na capital mineira, há uma grande competição entre os profissionais de minha área. Aqui, a oferta de trabalho, o ganho e a qualidade de vida são melhores”, conta Astride, casada com um médico de Juazeiro do Norte.

Clique na imagem para ampliar
Clique na imagem para ampliar
Ela e o marido, Cícero, criam os dois filhos, Lívia, de 9, e Guilherme, de 6, na vizinha Crato, onde a família mora. Crato e Juazeiro, a exemplo de BH e Contagem, cresceram tanto que se uniram. Ambas as cidades do Cariri se transformaram no eldorado da construção civil. O mesmo ocorre no Recife (PE), para onde a mineira Ana Carolina Salomão de Azevedo, de 30, se mudou há pouco mais de um mês. Ela advogava para uma grande construtora em Minas e, no fim de 2012, foi promovida. A condição, porém, foi se mudar para a capital de Pernambuco: “O Nordeste é a bola da vez da economia brasileira”.

Preço
A boa-nova, contudo, tem seu preço. No Recife, relata Ana Carolina, o mercado de aluguéis de imóveis está semelhante ao de países do Primeiro Mundo. “O aluguel de um apartamento de um quarto, na região da Praia da Boa Viagem, está em torno de R$ 2,5 mil por mês. E olha que não é na orla.” A 60 quilômetros de lá, está o complexo industrial portuário de Suape, um dos principais polos de investimentos do país. Atualmente, as obras em andamento somam R$ 1 bilhão. De janeiro a novembro de 2012, foram movimentados 10.237.265 toneladas de carga.

Grandes empresas, como Petrobras e Fiat, têm unidades na região. No Suape, as seguintes firmas estão sendo instaladas: o estaleiro Promar, a Impsa-Hydro (turbinas hidrelétricas), a Refinaria Abreu e Lima, a Companhia Brasileira de Materiais de Construção (cimento), a LM do Brasil (fabricação de pás para turbinas eólicas), entre outras, com a geração de dezenas de milhares de empregos.

Corrida puxada pelo crescimento


Se nas décadas de 1970 e 1980 os mineiros foram em busca de oportunidades em São Paulo e no Rio de Janeiro e nos últimos anos migraram também para os estados do Nordeste, houve os que foram atraídos pelo próprio crescimento de Minas. A queda da população mineira em São Paulo e Rio em número expressivamente maior do que o do aumento de mineiros no Nordeste reforça, segundo especialistas, que há mais gente voltando para Minas do que saindo daqui. Em 2000, 4 milhões de mineiros moravam em outros estados das cinco regiões do Brasil. Em 2010, esse número reduziu para 3,5 milhões de homens e mulheres.

“É a migração de retorno, que ocorre devido ao avanço da economia, sobretudo nas cidades médias. A qualquer sinal de estímulo econômico desses municípios, os migrantes voltam”, afirma o professor Alisson Flávio Barbieri, do Departamento de Demografia da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Outros três especialistas no assunto, os professores Fausto Brito e José Irineu Rigotti, com Jarvis Campos, redigiram, em dezembro, um texto que trata do assunto: A mobilidade interestadual da população no Brasil no início do século XXI: mudança no padrão migratório? Eles concluem que “aqueles estados e regiões que no padrão migratório tradicional foram grandes exportadores de população, como o Nordeste e Minas, são os que mais se destacam como o destino da imigração de retorno”.

CAPITALIZADOS
Barbieri completa o texto dos amigos, dizendo que boa parte dos que retornam “voltam capitalizados”. Ele avalia como curiosa a planilha referente à migração de mineiros para o Nordeste, mas ressalta que o estudo do IBGE mostra apenas que o mineiro está migrando também para os estados da parte de cima do mapa do Brasil.

Embora a população mineira tenha caído nos dois estados mais ricos do país, provavelmente o número de migrantes para essas praças ainda é maior do que as do Nordeste. É bom lembrar que a planilha do IBGE mostra o saldo de mineiros num determinado estado e não quantos foram ou voltaram. (PHL)


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)