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Estado de Minas

Sustento é tirado à beira da BR-040


postado em 18/12/2012 06:00 / atualizado em 18/12/2012 08:02

Vilma de Fátima ganha a vida vendendo cristais na BR e tem medo de perder a fonte de renda(foto: EDILSON RODRIGUES/CB/D.A PRESS)
Vilma de Fátima ganha a vida vendendo cristais na BR e tem medo de perder a fonte de renda (foto: EDILSON RODRIGUES/CB/D.A PRESS)

Brasília – Importante eixo de ligação entre a região central do país e o Sudeste, passam diariamente pela BR-040 milhares de caminhões carregados com os mais variados produtos. Desde os minérios extraídos em Minas Gerais, aos mais variados tipos de grãos colhidos em Goiás, essas commodities são negociadas entre os maiores grupos econômicos nacionais e estrangeiros e escoadas pela rodovia. Além da importância logística para o setor produtivo, muitos brasileiros tiram o sustento das famílias por meio de negócios montados informalmente na beira da estrada. Atentos a decisão do governo de privatizar os 936,8 quilômetros entre Brasília e Juiz de For a, na Zona da Mata, os trabalhadores têm medo de perder a única fonte de renda das vendas às margens da pista.

Essa é a realidade da garimpeira Vilma de Fátima, de 55 anos. Moradora de Cristalina (GO), cidade distante 90 quilômetros do Distrito Federal, ela vende há 30 anos cristais que extrai das pedreiras da cidade no km 93 da BR-040 em uma banca de madeira. Todos os dias, às 7h30, está no local. Nos períodos de seca, deixa os colares e peças de decoração lapidados por ela e pelo maridos expostos até às 16h. Na época de chuva a jornada é reduzida para as 13h.

Ela conta que os viajantes de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Minas Gerais são os melhores clientes, mas os brasilienses permanecem fieis aos produtos. "Com o dinheiro da venda dos cristais consegui construir uma casa", diz. Mais de três décadas exposta ao sol, somadas as condições precárias de trabalho à beira da estrada e no garimpo estão marcadas no rosto de Vilma.

Mesmo com as dificuldades diárias para tirar por mais pouco mais de R$ 900, ela não perde a disposição. O sorriso só se perde quando pensa na possibilidade de ser obrigada a deixar o local quando as obras de duplicação tiverem início. "Eu e meu marido criamos dois netos e sobrevivemos dá venda dos cristais. Tenho muito medo de perder o trabalho. É a única coisa que sei fazer", desabafa.

Dificuldade


A falta de postos de trabalho em Cristiano Otoni, na Região Central de Minas, obrigou Rogério Magela, de 42, a vender panelas, pimenta em conversa, biscoitos de polvilho e água de coco às margens da rodovia. Independente do calor ou do volume de chuva, ele mantém as prateleiras de madeira cheias de mercadorias das 8h às 18h. Há cinco anos no mesmo local, Magela recebe R$ 35 por dia para atender caminhoneiros e viajantes que passam pelo local.

Sempre bem humorado, o vendedor está animado com a possibilidade de a duplicação da rodovia absorver parte da mão de obra ociosa que vive na cidade. "Soube que vão fazer uma grande obra na pista e isso sempre é bom para a comunidade. O asfalto está muito ruim e todos os dias passam muitos caminhões por aqui", comenta.

A única preocupação de Magela é com a possibilidade de perder o trabalho. "Sempre sobra para o lado dos mais pobres. Muitas pessoas dependem da venda desses produtos. Espero que deixem a gente trabalhar", afirma.

Crianças também trabalham na BR

Além dos informais que estão na beira da estrada, a reportagem flagrou crianças trabalhando às margens da rodovia. R. S., de 13, estuda de manhã e a tarde vende biscoitos e água às margens da BR-40. Tímido e franzin,o ele mora com os país e os R$ 30 que recebe por dia trabalhado usa para ajudar a família. O adolescente arrisca a vida na rodovia para entregar água, biscoitos e pêssegos aos motoristas que param para comprar alguma coisa.

A jornada de trabalho dele termina no entardecer. Ele ressente pela falta de tempo para estudar e se divertir como qualquer criança da mesma idade. "A vida aqui é muito difícil, mas tenho que ajudar a minha mãe e o meu pai a comprar comida e pagar as contas. Quero uma vida melhor, mas não sei o que vai acontecer depois que a pista for duplicada", diz.

Em uma barraca próxima também trabalha o pequeno P.D., de 8. Ele, os pais, e os irmãos mais velhos vendem biscoitos e água na beira da estrada. Dias estuda de manhã e a tarde se esconde embaixo de um guarda sol para proteger a pele branca dos raios solares. "Queria brincar como as crianças que eu vejo na televisão", lamenta.

Desocupação

Enquanto quem trabalha informalmente às margens da BR-040 mantém a esperança de não ser removido da beira da estrada, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) avisa que com a concessão as ocupações irregulares serão combatidas e fiscalizadas. A diretora da ANTT Natália Marcassa explica que o governo conhece a realidade dessa parcela de brasileiros que tiram o sustento da venda de produtos e alimentos para viajantes, mas destaca que essa precariedade precisa ser combatida para a segurança de quem trafega na rodovia.

Ela explica que toda a desocupação das margens da estrada deverá ocorrer até o décimo quinto ano de concessão. "A Polícia Rodoviária Federal (PRF) terá um papel fundamental nesse processo, uma vez que é responsável por garantir que essa demanda seja cumprida", explica. (AT)


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