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Estado de Minas

Juros baixos representam vantagens e desvantagens


postado em 22/07/2012 10:34

O implacável mercado, na figura dos analistas financeiros que vivem de apostar nos rumos que os indicadores da economia vão tomar, agora se debate sobre a capacidade do governo de manter equlibrado o pêndulo da taxa básica de juros, a Selic, que remunera os títulos públicos e serve de referência para as operações no comércio e nos bancos.


Como na brincadeira do bem-me-quer, mal-me-quer, a tarefa do Comitê de Política Monetária (Copom) envolve, na prática, dosar e optar entre quem está ganhando e os perdedores da nova era dos juros de 8% ao ano – os mais baixos que o país já teve – e finalmente equiparados à prática no mundo. Até quando?. Essa tem sido a pergunta mais comum desde a semana passada nas corretoras de valores, consultorias, instituições financeiras, de pesquisa e entre economistas de distintas tendências.


Lado mais fraco dessa história, o consumidor deve se precaver da ânsia dos pesos pesados na balança dos perdedores, todo o setor financeiro que se acostumou ao ganho exorbitante dos encargos cobrados nos financiamentos à população e às empresas. As famílias que se endividaram e entraram na estatística das dívidas que consomem quase 43% do que os brasileiros ganham estão, curiosamente, nesse mesmo barco, o de quem perdeu. Analistas de cinco instituições que acompanham os índices de desempenho da economia ouvidos pelo Estado de Minas reconhecem que os juros baixos fazem mais o bem do que representam um mal para o país. Resta saber até quando.

Quem ganha

Consumidor

Abre-se brecha para troca de dívidas mais caras – como aquelas contraídas no cartão de crédito e no cheque especial – por outras mais baratas, especialmente o empréstimo pessoal e o crédito consignado. A possibilidade de portabilidade de crédito e a concorrência entre as instituições financeiras num ambiente de pressão do governo para rebaixamento dos juros permite que o consumidor busque uma equação mais barata da dívida e, dessa forma, agilize o pagamento; Só em maio, o número de operações de portabilidade de crédito aumentou 43% em relação ao mesmo período do ano passado.

Empresas
O crédito mais barato viabiliza investimentos a custos mais baixos no setor produtivo, com a geração de empregos e renda. O problema é que existem outros fatores de preocupação nas empresas, entre eles a crise mundial. O nível de confiança do empresariado está em queda, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). De junho para julho o índice recuou 2,8 pontos, maior queda desde julho de 2010. Outro bom resultado dos juros menores para as empresas é que as despesas financeiras da atividade produtiva tendem a ser menores.

Bolsa de Valores

Com a renda fixa perdendo atratividade, a Bolsa de Valores volta a ser uma boa alternativa para investidores no longo prazo que buscam maior rentabilidade. Ao estimular o consumo, os juros mais baixos sinalizam aumento de consumo e da produção das empresas, que estão diante de capital mais barato para novos investimentos. O maior interesse dos investidores nas corporações de capital aberto eleva as cotações das ações.

Caderneta de poupança
Competindo diretamente com a renda fixa, a poupança tem se mostrado uma boa alternativa para consumidores que buscam liquidez. Sem incidência de Imposto de Renda (IR) – o que não é o caso dos CDBs, fundos e títulos públicos – a poupança bateu recorde de captação no primeiro semestre. Segundo o Banco Central, de janeiro a junho os depósitos superaram em R$ 14,85 bilhões as retiradas. De um ganho fixado em 6,17% ao ano acrescido variação da Taxa Referencial (TR), as novas poupanças passaram a render 70% da Selic mais a TR.

Mercado imobiliário
As taxas mais baixas reduzem o custo mensal das hipotecas e dos financiamentos habitacionais. Além disso, com o maior volume de depósitos na poupança, um dos principais problemas do setor é amenizado: a necessidade de fontes de recursos para o financiamento imobiliário. É da poupança que vem boa parte deste dinheiro. Antes em desvantagem em relação à renda fixa, o funding estava caminhando para o esgotamento, o que obrigou o mercado a discutir novas alternativas, como securitização.

Exportadores
Os juros meno
res levam à depreciação do câmbio, uma vez que tornam menos atrativo o investimento nos títulos do governo negociados no mercado financeiro. Quando isso ocorre, diminui a entrada de dólares no país e, por consequência, com a oferta baixa, a moeda tende a se valorizar. As exportações ficam, portanto, mas competitivas e as importações mais caras. É algo que as empresas tem reclamado como parte da política que o governo adotou, editando medidas para reanimar a economia._


Quem perde

Bancos e financeiras independentes

Taxa de juros menores são sinônimo de queda no lucro dos bancos e instituições financeiras. Para manter os ganhos, é preciso aumentar a captação de recursos, alternativa que, em muitos casos, não é viável para pequenas e médias instituições. Portanto, a medida em que os juros caem, bancos e financeiras de menor porte têm mais dificuldades em operar no mercado. O resultado é uma concentração do sistema financeiro, seja pela extinção dessas instituições financeiras ou por processos de fusão e aquisição.

Seguradoras
Ao receber os depósitos dos segurados, as empresas aplicam imediatamente o montante. Dessa forma, acumulam recursos para cobrir as sinistralidades inerentes ao negócio. Ao captar menos recursos no mercado financeiro, diante dos sucessivos cortes da Selic, as seguradoras também vêem os lucros em queda. Isso porque terão que realizar desembolso maior para cobrir o mesmo montante relativo aos sinistros.

Investimentos de renda fixa
Atrelada à Selic, fundos de renda fixa, CDBs e títulos do tesouro direto têm os rendimentos reduzidos à medida em que as taxas de juros são revisadas para baixo. Considerada a taxa de administração das instituições e a cobrança de Imposto de Renda (IR), muitos desses investimentos estão rendendo abaixo da poupança. Outras opções como fundos imobiliários, debêntures e o mercado acionário acabam se tornando alvo do apetite do capital investidor.

Governo
A perda de atratividade de produtos de renda fixa reflete diretamente na captação de recursos pelo governo. Isso porque este passa a ter dificuldade para financiar a sua dívida, composta de títulos públicos negociados no mercado financeiro que têm a rentabilidade atrelada à variação da Selic. Cerca de 20% da dívida interna brasileira está nas mãos de investidores estrangeiros. Títulos públicos também servem para financiar atividades do governo federal, como educação, saúde e infra-estrutura.

Consumidores
Juros em queda funcionam como grande estímulo às compras. O resultado é um comprometimento cada vez maior da renda. Segundo levantamento do Banco Central, as dívidas consomem quase 43% do que os brasileiros ganham, maior taxa de endividamento familiar dos últimos sete anos. Com taxas altas de maus pagadores, os bancos têm dificuldade em repassar, na mesma velocidade e dimensão, o corte da Selic para a ponta, o que acaba prejudicando os consumidores em geral.

Caderneta de poupança
Para possibilitar uma queda ainda mais expressiva da Selic, a rentabilidade da poupança teve que ser revisada. Desde 4 de maio, novas aplicações na caderneta estão sujeitas a rendimento anual equivalente a 70% da Selic. Antes, a variação mensal era fixada em 0,5% ao mês mais Taxa Referencial (TR), o que equivalia a uma média de ganhos de 6,17% ao ano mais TR. Com a Selic em 8%, este percentual cai para 5,6% ao ano mais TR.


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