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Estado de Minas

Sobram dinheiro e dívidas no Brasil

Juros mais baratos e maior oferta de crédito não foram capazes de diminuir o calote no país. Inadimplência para pessoa física chegou a 6% e bateu recorde no mês passado


postado em 27/06/2012 06:00 / atualizado em 27/06/2012 07:19

"Se o pagamento da fatura atrasar sete dias, a prestação fica R$ 20 mais cara", diz Gilmar Souza, servente da construção civil (foto: FOTOS: TÚLIO SANTOS/EM/D.A PRESS)
Os juros para o consumidor caíram em maio para o menor patamar da história, mas apesar do refresco o brasileiro ainda não sente o alívio do crédito mais barato e farto no orçamento doméstico. As famílias seguem endividadas: quase um quarto da renda é dedicado ao pagamento de dívidas. E nos últimos 12 meses a inadimplência no país praticamente dobrou, atingindo o percentual de 6% em maio. O índice é recorde, ou seja, o maior da série histórica iniciada em 2000 pelo Banco Central (BC).

O crédito que empurra o consumo também alcançou no mesmo mês a maior marca já registrada, de 50,1% do Produto Interno Bruto (PIB). Apesar dos indicadores, o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, afirmou que não há riscos na corrida para o consumo. “O crédito cresceu juntamente com a renda e com o emprego.” Analistas do mercado apontam que os números do segundo trimestre vão mostrar com mais clareza os efeitos das medidas macroeconômicas. “A inadimplência pode levar o governo a ter de rever a política de incentivo ao consumo”, aponta Mauro Rochlin, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV/IBS).

A queda da taxa básica de juros para o patamar de 8,5% ao ano, somada à concorrência acirrada pelos bancos públicos, impulsionou a redução do custo do crédito. Segundo o BC, as taxas médias para pessoa física atingiram a média anual de 38,8% no mês passado, menor patamar da série histórica. Apesar de os dados apontarem para um cenário mais propício ao endividamento, o descontrole do brasileiro preocupa especialistas. “O volume de crédito no país não é excessivo, mas cresceu depressa demais, antes que os tomadores pudessem se educar”, diz Tharcísio de Souza, coordenador do MBA em administração da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). Segundo o especialista, a evolução do calote no curto prazo é um sinal de alerta para o governo.
"Não tenho mais cartão de crédito nem contas. Agora só compro à vista, afirma Bruno Silveira", profissional de serviços gerais

Em Belo Horizonte, somente no Procon Assembleia, cerca de 750 consumidores chegam mensalmente para renegociar dívidas. “Além de orientar sobre a educação financeira, o Procon faz a intermediação para flexibilizar as formas de pagamento, mas a jornada rumo à estabilização financeira é bem longa”, alerta o advogado Marcelo Barbosa, coordenador do órgão.

O profissional de serviços gerais Bruno Márcio Silveira resolveu acertar as contas com o cartão de crédito para sair da roda-viva que devorava seu salário. Ele conta que dividiu sua dívida em três parcelas de R$ 130. Mas acredita que, se não fossem os juros, as parcelas não ultrapassariam R$ 60. “Não tenho mais cartão de crédito nem contas. Agora só compro à vista”, declara.

Apesar dos indicadores, o incentivo ao consumo continua como estratégia para conter o esfriamento da economia. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse, no início do mês, que alguns fatores sugerem a redução da taxa de inadimplência, entre eles a política de corte da taxa básica. Por outro lado, nesta semana o Banco de Compensações Internacionais (BIS) divulgou relatório no qual sustenta que o Brasil está em uma “zona de perigo”, citando o descompasso entre o crescimento do crédito e o endividamento das famílias, além da alta de preços no mercado imobiliário.

Gilmar Souza, servente da construção civil, tem a renda comprometida com a prestação de um notebook e de uma televisão. Ele diz que o crédito é uma boa ferramenta, mas considera os juros altos demais. “Se o pagamento da fatura atrasar sete dias, a prestação fica R$ 20 mais cara.” Dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) mostram que os juros do cartão de crédito não acompanharam a queda da Selic: permanecem intactos potencializando o descontrole financeiro.


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