Minas importa móveis de ferro

Na terra do minério e da indústria siderúrgica, os móveis de ferro e aço são chineses. As locomotivas que circulam entre as montanhas ganham eixos e rodas fabricadas no gigante asiático, enquanto morangos congelados deixam os portos do país oriental para desembarcar nos supermercados mineiros. A despeito da alta recente do dólar, que encarece os artigos estrangeiros, as importações mineiras com origem na China seguem sem perder fôlego e surpreendem na diversidade, ao invadir mercados que envolvem insumos típicos da produção do estado.

De janeiro a maio, elas faturaram 41,5%, em média, a mais que no mesmo período do ano passado, ao somarem US$ 631 milhões. A corrente inversa – as exportações de Minas para clientes chineses – sofreu queda de 14,2%, com uma receita de US$ 4,033 bilhões, conforme levantamento feito pela Fundação João Pinheiro com base nos dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

Ao lado das compras mineiras de máquinas, material elétrico e produtos químicos fabricados na China, foram os produtos mais improváveis que despontaram, conforme os números analisados pela pesquisadora Elisa Maria Pinto da Rocha, da área de comércio exterior da Fundação João Pinheiro. O volume de guarda-chuva e sombrinhas chinesas que ingressou em Minas subiu 207,2% neste ano, representando US$ 1,725 milhão, seguido dos morangos, framboesas e amoras congelados importados a um ritmo mais que o triplo superior ao de janeiro a maio de 2011. Móveis de ferro e aço, duas matérias-primas tradicionais das exportações estaduais para o país asiático, registraram um avanço de 126,1%, faturando US$ 17,873 milhões.

Os percentuais são resultado da agressiva capacidade dos chineses de buscar oportunidades de negócio, ao passo que as exportações mineiras se mantêm fortemente concentradas em produtos básicos, como minério de ferro e grãos. “Enquanto não tivermos uma estratégia de valorização das exportações pelo contéudo tecnológico, vamos depender das commodities (produtos minerais e agrícolas cotados no mercado internaconal)”, afirma Elisa Rocha. Cerca de 90% das vendas de Minas na China são de minério de ferro e outros 2% consistem em produtos siderúrgicos.

Essa concentração empobrece a pauta de comércio de Minas com o exterior, observa a pesquisadora. O preço médio das importações totais do estado de janeiro a maio foi de US$ 4.289,50 por tonelada, o equivalente a 43 vezes o preço médio das exportações mineiras, de US$ 100,30 por tonelada. As encomendas de produtos importados continuam firmes, segundo Frederico Martini, diretor da Domus Importação e Exportação, representante da Ceva Logistics. De acordo com ele, os embarques deste mês já superaram toda a movimentação de maio.

A China está se tornando mais agressiva nas exportações de produtos manufaturados, à medida que a crise mundial se aprofunda, lembra o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Do lado das exportações mineiras e brasileiras, o domínio das commodities enfrenta redução dos preços dos insumos, também decorrente do freio imposto à economia mundial.

QUE BALANÇA É ESSA?

Importações mineiras com origem na China que mais cresceram
(janeiro a maio)

Produto Valor Variação %
(em US$ mil) frente a
jan/mai-2011
Material de transporte ferroviário,
aéreo e naval* 319 437,3
Guarda-chuva e sombrinhas 1.725 207,2
Frutas congeladas** 81,4 183,5
Móveis de ferro e aço 17.873 126,1

TOTAL 631.000 41,5

Itens de maior peso nas compras mineiras da China
(participação no total)

Máquinas e material elétrico 28%
Equipamentos mecânicos 24%
Produtos químicos 15%
Produtos siderúrgicos 5%
Produtos têxteis 4,8%

Fonte: Fundação João Pinheiro/MDIC
(*) eixos e rodas de locomotivas, hélices e trens de pouso de helicópteros, peças e partes, barcos e embarcações para esporte e lazer
(**) morango, framboesa e amora