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Estado de Minas BRASIL S/A

Discurso invocado

Pancada de Dilma na banca em rede nacional marca o rompimento com o estilo conciliador de Lula


postado em 02/05/2012 07:19 / atualizado em 02/05/2012 08:45

Com o deputado Brizola Neto (PDT-Rio) no Ministério do Trabalho e a forte crítica aos bancos no pronunciamento em rede de rádio e TV pelo Dia do Trabalho, a presidente Dilma Rousseff deu outro passo para moldar o governo ao seu jeito e firmar uma linha programática mais autônoma em relação aos partidos que a apoiam, mesmo o PT, e menos conciliatória que o estilo do ex-presidente Lula.

Ela já era dura no trato com os empresários como ministra da Casa Civil, e continuou depois de eleita, uma vez que nunca se afastou do monitoramento das principais obras de infraestrutura do PAC.

O que toma forma sobre onde antes havia, se tanto, a manifestação de seu incômodo com o ritmo lento das obras e programas é o esboço de uma política na qual o governo, não o Estado, ocupa papel mais central nos rumos da economia e nas intenções do setor privado.

Não significa que ela procure uma espécie de alforria da doutrina herdada de Lula ou que comece a governar à revelia dos interesses maiores do ex-presidente em relação à política. Mas, ainda que ele concorde com a bordoada dada por ela em rede nacional nos bancos, provavelmente conduziria a questão de outro modo, considerando-se o relacionamento amistoso com o capital em seus dois governos.

Lula era mestre em atacar os outros, aquela gente de olhos azuis, como disse certa vez, sempre num palanque, mas sem nunca precisar muito bem o alvo de suas diatribes. Preferia a crítica genérica em público. É o contrário de Dilma. Mas só se mostrava por inteiro em reuniões palacianas. Mais confiante, devido à popularidade recorde para o seu tempo de mandato, ela apareceu sem travas na TV. E deve ter feito sucesso. Falar mal da banca é simpático no mundo todo.

“É inadmissível que o Brasil, que tem um dos sistemas financeiros mais sólidos e lucrativos, continue com um dos juros mais altos do mundo”, disse ela em seu discurso. “O Brasil de hoje não justifica isso. Os bancos não podem continuar cobrando os mesmos juros para empresas e para o consumidor, enquanto a taxa básica Selic cai, a economia se mantém estável e a maioria esmagadora dos brasileiros honra, com presteza e honestidade, os seus compromissos.”

Nunca antes neste país
Crítica tão direta assim a algum ramo do capital pelo presidente da República só nos tempos do Plano Cruzado, no governo Sarney – com preços tabelados, quando o empresário Abílio Diniz, do Pão de Açúcar, foi preso, acusado de atentar contra a economia popular.

O presidente Fernando Collor ganhou aplausos ao chamar de carroças os carros montados no Brasil. Mas creio que nunca antes neste país um presidente ousou tanto contra os banqueiros. E no horário nobre.

Quem a conhece entre os empresários não deve ter se surpreendido. Empreiteiros, com os quais se reúne com frequência devido às obras do PAC, costumam, por exemplo, levar cascudos dela.

Exegese do estilo durão
O que está em aberto ao empresariado, mas também aos caciques dos partidos da coalizão governista, é o que configura o estilo durão, autoritário até, da presidente. Irritação ou ideologia enrustida?

Por mais que não demonstrem, ainda há entre o empresariado, e com ênfase entre os do setor financeiro, pé atrás em relação ao PT. As atitudes de Dilma, no entanto, sugerem equilíbrio entre a economia de mercado, a redistribuição da renda e o dirigismo estatal. Nem a banca, com seus lucros vistosos, tem do que reclamar. Mas ela sim.

Dilma relacionou, no discurso, o tamanho dos juros cobrados pelos bancos com os seus resultados para inferir que “o setor financeiro não tem como explicar essa lógica perversa aos brasileiros”.

Reafirmação com Brizola
Foi a parte mais ácida do pronunciamento, ouvido pelo economista Mansueto Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea, como “um tom de populismo como há muito não escutava”. Para ele, “o governo utiliza a CEF e o Banco do Brasil e ainda fica inflando o sentimento da população contra os bancos privados”.

É procurar chifre em cabeça de cavalo, até porque há muito tempo a população já julgou a banca, que, por sinal, nunca deu bola ao que dizem dela. O que há a considerar não é se Dilma se excede em sua crítica à banca, mas se o empresariado é que se omite frente a uma presidente ativista, ignorando os sinais para compartilhar com a Fazenda e BNDES, por exemplo, o debate sobre o desenvolvimento.
E o senso da nomeação do neto de Leonel Brizola para o Trabalho? Reafirmar que os partidos terão assento no governo, se o ministro for de seu agrado – o caso do Brizola Neto, reforçado para liderar o PDT, do qual Dilma foi filiada, e trazê-lo para perto dela.

E-mail para esta coluna: machado@cidadeblz.com.br


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