Brasília – A crise econômica internacional ainda tem para o mundo um legado de 50 milhões de empregos a menos do que existiam antes de 2008. E é bastante improvável que as nações cresçam a um patamar suficiente para cobrir esse déficit e ainda criar mais 80 milhões de postos, necessários para manter ocupadas as novas gerações. Também em função das políticas de austeridade adotadas nos países europeus, o mundo deve ter, até dezembro, 202 milhões de pessoas desempregadas, com expansão de 6,1% este ano e 6,2% no ano que vem. E pior, até 2016, 210 milhões de pessoas ainda estarão à procura de emprego. O Brasil, em que o número de desempregados vem caindo, é uma exceção no quadro dramático, desenhado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) no documento Better jobs for a better economy (Empregos melhores para uma economia melhor), divulgado ontem. O acesso ao mercado, no entanto, ainda é mais difícil para jovens e mulheres, por exemplo.
Uma das razões apontadas pela OIT pelo decréscimo no número de postos nas economias avançadas, é a dificuldade de obtenção de crédito, especialmente, pelas pequenas empresas. “O investimento tornou-se mais volátil, o que exacerbou a precarização do trabalho”, diz o texto. Esse é um dos fatores que diferencia o Brasil da maioria dos países. “Aqui, o aumento da oferta de crédito na economia impulsionou o consumo, o que fez aumentar o número de postos em setores como o de comércio e serviço, que empregam muita gente. Com isso, criou-se um ciclo positivo, pois, com mais pessoas trabalhando, há mais renda para o consumo", compara o coordenador de Economia Aplicada do IBRE/FGV, Armando Castelar.
Na avaliação da OIT, os efeitos da crise não são passageiros. “Essa não é uma redução normal no emprego. Em quatro anos de crise global, os desequilíbrios do mercados de trabalho estão se tornando mais estruturais e mais difíceis de serem erradicados”, adverte a organização, segundo a qual certos grupos, como as pessoas há muito tempo desempregadas, estão sob o risco de exclusão do mercado. “Mesmo que aumente o número de vagas disponíveis, elas não conseguirão emprego porque ficaram tanto tempo sem trabalhar que estão defasadas”, explica o analista da consultoria Tendências Rafael Baccioti.
Para a organização, a chave do bom desempenho do Brasil está na política adotada no início da crise, de aumento dos investimentos e dos gastos públicos. Mas as facilidades para encontrar emprego não são as mesmas para todos no país. A estudante de Publicidade Gabriella Santos Malta, 20 anos, precisou procurar durante um ano até encontrar estágio na área de direção de arte, a primeira oportunidade de ingressar no mercado. “Cheguei a buscar emprego na área administrativa de um plano de saúde e em uma empresa de pesquisas, mas não fui aceita”, conta. Nesse aspecto, o Brasil segue a tendência mundial: segundo a OIT, as taxas de desemprego juvenil aumentaram em cerca de 80% nos países avançados e em dois terços nos países em desenvolvimento.