Se a luta atrás do sonhado emprego é dura para os profissionais mais qualificados, imagine a que ponto chegam as dificuldades para trabalhadores como Marlon Mendes, que está ainda no começo do curso superior de moda, e o faz-tudo Jarbas Alvarenga, que parou de estudar depois de completar o ensino fundamental. O futuro produtor de moda é, hoje, candidato a vendedor em shopping centers, mas embora se esforce na procura por uma oportunidade, não encontra explicação para a ausência de propostas entre centenas de lojas de roupas que procurou.
Jarbas Alvarenga também lida com os obstáculos da baixa qualificação. No quebra-cabeça do desemprego na Grande BH, o número de vagas ofertadas é maior que a demanda, no entanto, certos perfis de desempregados são, particularmente, difíceis de serem encaixados e demoram um pouco mais para alcançar a recolocação. Para Marlon Mendes, uma questão central que o prejudica é a timidez.
Segundo Hegel Botinha, diretor do Grupo Selpe, empresa especializada em recrutamento de pessoal, profissionais menos qualificados, em geral, ficam mais passivos em relação à formação escolar e, por isso, tendem a ter mais dificuldade em retornar ao mercado. “A princípio, eles recorrem às vias mais tradicionais de busca por uma vaga, principalmente dentro da família. O resultado é um tempo maior de procura”, pondera.
O coordenador técnico da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) pela Fundação João Pinheiro (FJP), Plínio Campos aconselha como primeiro passo na busca por uma vaga o auxílio das redes de contatos pessoais. Ele afirma que uma boa rede de relacionamentos é a forma mais simples de conseguir uma melhor colocação no mercado de trabalho.
Esgotada a lista, é hora de gastar sola de sapato e visitar empresas em busca de um posto de trabalho, que, muitas vezes, pode resultar num cargo de nível inferior ao esperado e obrigar o candidato a se atualizar do ponto de vista profissional para conseguir alcançar uma oportunidade melhor. E alerta: “Não basta procurar as empresas uma vez por mês. É preciso insistir e fazer visitas constantes”.
Jarbas Dias Neto, 25 anos
>> Formação: ensino fundamental completo. Foi gari, auxiliar de jardinagem e repositor de mercadorias.
>> Tempo de procura por emprego: três meses.
>> Último cargo: auxiliar de produção.
>> Como busca se recolocar
Depois de distribuir currículos em Sabará, onde mora, e não receber retorno, Jarbas decidiu ampliar a procura, buscando emprego também na capital. Ele tem que garantir o sustento da esposa e da filha, de 3 anos. Mas, antes de seguir para BH, ele busca vagas na internet e publicou um perfil com suas habilidades numa página especializada na internet. Sem formação técnica, ele já desempenhou funções bem diferentes, de gari a repositor de mercadorias em supermercado. Por isso, preparou sete modelos de currículos diferentes, um para cada vaga pretendida. Nem assim o resultado tem sido satisfatório. Pressionado pelo tempo e as necessidades do dia a dia, Jarbas faz trabalhos eventuais para a empresa da mãe, entregando encomendas, e, em troca, no lugar de dinheiro, recebe alimentos para a família. Na quarta-feira, ele conseguiu fazer um bico na CeasaMinas e ganhou R$ 100, o que garantiu o pagamento de uma parte da dívida de R$ 150 que ele tem com um banco. Passados três meses, no entanto, o desespero bate à porta: “Não posso ficar dependendo de mãe. Tenho que sustentar três bocas e fica difícil para ela”, diz Jarbas.
>> Dificuldades: o entrave para a esperada oportunidade pode ser explicado, entre outros motivos, pela exigência do próprio desempregado, que não quer mudar o ramo de atividade. Uma opção seria buscar emprego na construção civil – setor em crescimento nos últimos anos –, que em decorrência da escassez de mão de obra vem contratando
trabalhadores sem experiência.