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Estado de Minas

Malharias de Monte Sião preparam a coleção de inverno

Expectativa é de alta de 20% nas vendas, frente a 2011


postado em 03/03/2012 06:00 / atualizado em 03/03/2012 08:30

Monte Sião – O inverno só chegará ao país em junho, mas a fria estação já aquece a economia de uma pequena cidade do Sul de Minas Gerais, cujo nome é inspirado numa famosa montanha de Jerusalém. Trata-se de Monte Sião, a 480 quilômetros de Belo Horizonte, onde as vastas plantações de café foram substituídas, a partir da década de 1960, por centenas de micro e pequenas empresas da cadeia de vestuário. Hoje, embora conte com apenas cerca de 22 mil moradores, o município ostenta o título de capital nacional do tricô, produzindo cerca de 25 milhões de peças por ano. Empresários do ramo estimam que o volume em 2012 crescerá cerca de 20% em relação ao do ano passado.

A fama das mercadorias fabricadas no lugarejo desperta atenção de varejistas de várias partes do Brasil e até do exterior, garantindo abundância de emprego em Monte Sião. “Em nossa cidade, o inverno já começou. Temos cerca de 1,5 mil malharias, que empregam aproximadamente 8 mil pessoas, ou seja, 60% de nossa população economicamente ativa”, compara Tadeu Machado, presidente da Associação Comercial e Industrial de Monte Sião (Acims). Ele destaca que boa parte das indústrias vai apresentar as coleções 2012 ao mercado nos próximos dias.

Na cidade há cerca de 1,5 mil empresas de vários portes que produzem 25 milhões de peças por ano (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
Na cidade há cerca de 1,5 mil empresas de vários portes que produzem 25 milhões de peças por ano (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)
As novidades que saem das pequenas fábricas de lá atraem uma multidão de empresários e sacoleiras à cidade. Um dos endereços visitados pelos compradores é o da loja Diguetê, com fabricação própria. O dono da malharia, Rodrigo Breno de Souza, é natural de Divinópolis, outro famoso polo de moda no estado. Ele acredita que tanto sua produção quanto o faturamento serão 20% maiores neste ano. O empresário conta que decidiu trocar o Centro-Oeste pelo Sul de Minas há oito anos, de olho no crescimento do mercado de tricô.

Seus negócios vão tão de vento em popa, tanto que Rodrigo se prepara para abrir a segunda unidade em Monte Sião: “Será num shopping que estão construindo”. O gerente da Primart Malhas, Augusto César Botarelli, também prevê aumento na produção. No mês passado ele já precisou ampliar o quadro de funcionários da fábrica em 30%. “No início do ano, abrimos um turno novo e começamos a funcionar 24 horas. A equipe extra deve trabalhar até julho. A expectativa é de crescermos em torno de 10% no confronto entre este e o exercício passado. Parte de nossa confecção é encaminhada para outros estados”, disse o descendente de italianos.

Aliás, explica o presidente da Acims, o atual carro-chefe da economia de Monte Sião, que por décadas foi guiado pela cafeicultura, se deve aos europeus. Machado diz o porquê: “Muitos turistas de São Paulo chegavam à cidade, que é perto da divisa com o estado vizinho, e se encantavam com os tricôs feitos por famílias italianas. Os europeus tinham o hábito de fazer as peças nas calçadas. Era produção artesanal. O produto ganhou fama e na década de 1990 foram importadas máquinas da Alemanha, da Itália e do Japão, alavancando a produção. A cidade se transformou em polo do setor”.

Hoje, descendentes de outras nações também ajudam a impulsionar a economia do lugarejo. Dono da Confecções Sol Nascente, Tosiyuki Akagui prevê fabricar 10% a mais este ano. Ele também é presidente da Cooperativa de Crédito do Circuito das Malhas (Credmalhas), criada em 2001. “Registros de 3 mil cooperados reforçam a importância das malharias para Monte Sião e região”, ressalta.

Empregados do estado vizinho

A economia em Monte Sião também é movida por mão de obra de municípios vizinhos, inclusive do interior de São Paulo. O presidente da Acims, Tadeu Machado, estima que 1,5 mil dos 8 mil trabalhadores na cadeia de confecções do lugarejo sejam de fora. “Isso mostra a grandeza de nossa economia”, destacou o dirigente. A mesma situação ocorre com malharias de outros municípios do Sul de Minas Gerais que apostam na atividade, como Jacutinga, outra referência em vestuário.

A vendedora Juliana de Morais Tomazi, gerente de produção de uma malharia, mora em Águas de Lindoia (SP), a 15 minutos de Monte Sião. Ela já trabalhou na capital paulista, onde sofria com os congestionamentos diários do trânsito e a poluição. “Estou aqui há três anos. Anteriormente, morava em São Paulo e só visitava minha terra-natal nos fins de semana. Agora, moro em Águas de Lindoia. Tenho outra qualidade de vida”, afirma a funcionária da Zezé Tricot.

Perto dali, na loja Modelan Tricot, Ana Rafaeli de Oliveira Alves, de 21, também vai e volta, diariamente, de Águas de Lindoia, onde nasceu e mora. “Gosto muito de trabalhar em Monte Sião. O movimento de consumidores nas lojas daqui é grande. Vem gente de todo o país”, disse enquanto colocava algumas peças estrategicamente próximas à entrada do comércio. “Estas são as que considero mais bonitas. Têm grande saída”, sustentou.

A vendedora Roseli Marcelino Santos, de 41, também é de fora. Natural de Jesuânia, no Circuito das Águas de Minas, ela chegou a Monte Sião há 15 anos. “Procurei emprego por, no máximo, uma semana. O trabalho pipoca na cidade. Quem quer trabalhar tem mercado. Nesta loja, por exemplo, precisamos de três vendedores temporários”, informa Roseli, fazendo questão de dizer que, após uma década e meia no município, se considera filha da terra. Quase todas as vitrines em Monte Sião, além de exibirem coloridas peças, estampam cartazes com os dizeres: “Há vagas. Deixe aqui seu currículo”. (PHL)


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