Uma das mais árduas etapas para a concretização da chegada da planta da Companhia Brasileira de Semicondutores (CBS) a Ribeirão das Neves, no Vetor Norte da Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), foi vencida nessa segunda-feira. O Conselho Estadual de Política Ambiental (Copam) aprovou o pedido de Licença de Instalação (LI) da unidade industrial que vai produzir circuitos eletrônicos semicondutores e terá como sócios o presidente da WS Consult e ex-presidente da Volkswagen do Brasil, Wolfgang Sauer, o bilionário Eike Batista e o governo de Minas, entre outros investidores. Com previsão de investimentos de US$ 500 milhões, o empreendimento será instalado no quilômetro 509 da BR 040 e vai gerar 288 empregos diretos.
Foram licenciados nessa segunda-feira pelo Copam a implantação da unidade de produção de componentes eletro-eletrônicos e a pavimentação e melhoramentos em rodovias de acesso, ambos de potencial poluidor médio. A expectativa é que a construção da unidade ocorra em 24 meses. O início das operações, segundo o projeto, será em dezembro de 2013. A unidade terá capacidade de produção de 360 wafers de 200 mm impressos (fatia fina, redonda, de um material semicondutor variando de tamanho de 6 a 12 polegadas de diâmetro) por dia ou 1.080 wafers/mês. A unidade industrial será instalada numa área total de 160 mil metros quadrados. “A atração desses investimentos consolida o setor de componentes eletrônicos no Vetor Norte”, observa Luiz Antônio Athayde, sub-secretário de assuntos estratégicos de Minas Gerais.
Vencida essa etapa para que o empreendimento saia do papel – depois de uma espera de nove anos – o governo de Minas tem mais uma batalha pela frente: finalizar o acordo de acionistas. Além de Batista e da WS, os nomes dos outros investidores têm sido mantidos guardados a sete chaves pela secretária Dorothea Werneck. “Encerramos uma das etapas que faltava. A outra é a finalização do acordo de acionistas, que está caminhando bem, na direção de fechar. Isso envolve o governo de Minas, Eike Batista e outros parceiros privados”, sustenta.
O projeto da CBS ficou engavetado desde 2003 por falta de parceiros estratégicos para compor a parte financeira do empreendimento e também sofreu atrasos porque, a princípio, a fábrica seria instalada no município de Vespasiano, também na RMBH, mas verificou-se que o solo do terreno disponível não era capaz de suportar a estrutura do complexo industrial.
Semente A licença ambiental obtida pela CBS aponta para a efetiva transformação do Vetor Norte num corredor multimodal de alta tecnologia, um sonho que vem sendo acalentado pelo governo de Minas desde 2005. Com o polo estruturado em torno do Aeroporto Tancredo Neves, em Confins, o objetivo é dobrar o Produto Interno Bruto (PIB) do estado duas décadas – de R$ 287 bilhões (dados de 2009) para R$ 574 bilhões. Para viabilizar essa realidade, o governo negocia a instalação de uma fábrica da gigante Foxconn para a região. A perspectiva é que a unidade de componentes para iPads receba investimentos de US$ 4,1 bilhões. No fim do ano passado, executivos da empresa de Taiwan sobrevoaram a Grande BH e visitaram terrenos na região. No inicio deste ano, o empresário Eike Batista chegou a anunciar que a fábrica será instalada em Minas, mas sua empresa, a EBX, confirma apenas que negocia a instalação de uma unidade da Foxconn e que Minas está no páreo.
Segundo o processo avaliado pelo Copam, a unidade da CBS vai produzir “componentes e circuitos eletrônicos denominados circuitos integrados, microchips ou microprocessadores, fabricados a partir de elementos miniaturizados estabelecidos com base em nanotecnologia, aplicados sobre uma superfície de substrato fino de material semicondutor moldada sobre uma placa de circuito”. O prazo de validade da licença de instalação é de quatro anos. Uma vez construída a fábrica, a empresa só poderá iniciar operações depois de cumprir as condicionantes ambientais determinadas no relatório dos técnicos da Superintendência Regional de Regularização Ambiental Central Metropolitana (Supram).
Consultoria fará raio X do potencial de MG
Na briga para atrair grandes investimentos de alta tecnologia, Minas Gerais vai contar no mês que vem com o reforço de uma consultoria internacional contratada pela Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) à Global Urban Development (GUD), organização não governamental, com sede em Washington, que se vale da experiência de 500 líderes e especialistas de 56 países. O contrato prevê um estudo detalhado sobre o potencial dos maiores polos industriais do estado para o desenvolvimento de produtos inovadores, agregando valor ao processo produtivo dessas regiões. A GUD traz no currículo o prestigiado trabalho de planejamento, no começo da década passada, logo depois da gestão do ex-presidente americano Bill Clinton, da estratégia que tornou o Vale do Silício, na Califórnia, uma espécie de capital mundial da tecnologia.
O braço local de execução do contrato será o Instituto Euvaldo Lodi, do sistema Fiemg, que está reunindo todos os diagnósticos já feitos sobre a radiografia econômica do estado como uma base de partida do trabalho dos consultores da GUD. A ideia é que a consultoria avance para um modelo capaz de servir como alavanca para o surgimento de novas empresas ou produtos inovadores, com a diferença, em comparação aos trabalhos anteriores, de dispor de uma interface mundial de conhecimento coordenado pelos escritórios da GUD no mundo, conta Adair Evangelista Marques, assessor executivo do IEL/Fiemg.
“A consultoria oferece experiência em projetos semelhantes desenvolvidos em cidades como Barcelona (na Espanha), para alavancar alternativas e apresentá-las à indústria mineira com referência internacional. E cria, assim, uma rede mundial de conhecimento e informação para esse trabalho”, afirma Adair Marques. O IEL recebe na próxima semana o presidente da GUD, Marc Weiss, e a equipe de especialistas que já darão início aos levantamentos em Minas. A primeira etapa termina em julho, orçada em R$ 100 mil.
Vocação Segundo a brasileira Emília Queiroga Barros, responsável pelo escritório recém-montado da GUD em Belo Horizonte, a consultoria tem como foco estruturar uma estratégia similar ao que fez em várias partes do mundo, aliando a vocação dos polos industriais de Minas, às oportunidades e desafios de uma economia moderna e de tecnologia avançada. O trabalho envolve o tema da sustentabilidade que já foi tratado pela GUD num contrato executado no ano passado em Curitiba. O alvo foi o desenvolvimento econômico enquadrado numa nova agenda da chamada economia verde, que promove energias renováveis, protege o meio ambiente e se previne contra os impactos do aquecimento global.
“Minas Gerais tem uma economia forte, mas muito baseada no primeiro setor (na extração de minérios e produtos agrícolas). Podemos desenvolver aqui uma estatégia de desenvolvimento, agregando valor à produção e que se torne referência”, afirma Emília Barros. O presidente da Fiemg, Olavo Machado Júnior, diz que a expectativa com a consultoria é de efetiva valorização da produção industrial mineira e de desenvolvimento tecnológico. “Diagnósticos, já fizemos muito. Agora, a intenção é levar estratégias às empresas para colocar um negócio em pé, que represente ganhos de recursos e grandes oportunidades”, afirma. A GUD mantém escritórios em Washington, Londres, Sidney, Hong Kong, Pequim, Barcelona, Instambul, Praga, Cingapura e São Francisco.