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Estado de Minas

Filhos custam cada vez mais caro no Brasil

Pais desembolsam até 35% do orçamento doméstico para atender a todas as necessidades de consumo dos jovens


postado em 13/03/2011 10:15 / atualizado em 13/03/2011 10:18

Na casa dos bancários Wânia e Cláudio Eduardo Costa Sampaio, ambos de 47 anos, a palavra desperdício está proibida. Hoje, o casal gasta com a educação e a saúde dos dois filhos, Carlos Eduardo, 21, e Daniel, 16, ao menos R$ 5,4 mil por mês, o que equivale a cerca de 35% da renda familiar mensal. Mas, para conseguir manter o orçamento em dia, é preciso impor limites: o carro deve ser usado só para ir para a escola e a faculdade (são raras as exceções), os horários de estudo são rígidos e, na hora de comprar roupas, as marcas não são o mais importante.

Esse regime espartano, porém, não é rotina na maioria das famílias da classe média. Com mais acesso à informação, o jovem do século 21 que integra esse grupo social deseja consumir e se torna cada vez mais caro para pais e mães. São cursos, viagens, carros, festas, intercâmbios, seguros de vida e eletrônicos. Em três famílias consultadas pelo Correio, os gastos por filho chegam até R$ 3.975 mensais. Em todos os casos, a educação consome a fatia mais gorda do orçamento. A maior despesa é a dos pais da universitária Júlia Vieira, 19 anos. O servidor público Lauro Lustosa Vieira, 58, e a servidora aposentada Heliana Corrêa, 56, desembolsam mensalmente, no mínimo, R$ 3,9 mil com as atividades da filha. Automóvel, iPod, notebook e aparelho celular de última geração são itens indispensáveis no dia a dia da jovem. Só a faculdade custa R$ 1,1 mil. “Ela faz estágio e ganha um dinheirinho, mas a maior parte das despesas fica por nossa conta”, diz Heliana.

Para Júlia, as despesas cresceram de acordo com a idade. “Com o passar dos anos precisamos de mais coisas”, argumenta. Ela troca o celular com frequência. “Os aparelhos são frágeis. Mas eu tenho consciência. Por exemplo, não peço um iPhone, que custa R$ 2 mil, para comprar outro em seguida.” O pai considera que os avanços da tecnologia também encarecem a criação dos filhos. “No meu tempo, o máximo que o adolescente exigia era uma mochila da Company e um tênis All Star, que acabavam saindo mais barato do que esses eletrônicos”, afirma.

O professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP) e da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) Fábio Gallo, autor do livro Como Planejar a Educação, explica que, de fato, o jovem do século 21 pesa mais no orçamento da família que o das gerações anteriores. “Ele ficou muito mais caro. A criança é exposta aos anúncios, conhece as marcas, os eletrônicos e repassa todo esse apelo para os pais. Esses, por sua vez, com a ascensão para a classe C, começam a comprar o que nunca puderam”, diz.

Para Sérgio Bessa, professor da FGV Management, no quesito educação, hoje em dia é difícil fugir de custos altos. “O mercado está muito mais exigente. Os jovens precisam de uma boa base de ensino e uma boa faculdade. E isso não basta. Quem não fala ao menos duas línguas, além do português, já enfrenta dificuldades numa seleção de emprego”, ressalta. Depois dos estudos, acrescenta ele, o lazer é um dos itens que traz mais despesas. “Não dá para fugir do assunto. Se o colega de escola tem um Iphone ou um Ipad, o adolescente vai querer também. Não basta ter um telefone, precisa ser o melhor. E isso tudo cria um gasto adicional.”

Futuro em risco
Fábio Gallo destaca, porém, a importância de se impor limites aos filhos para não prejudicar o próprio futuro financeiro deles. “A boa medida é a que oferece conforto, mas educa. O jovem precisa ser preparado para que saiba, no futuro, usar o seu próprio dinheiro”, aconselha. E é justamente isso que os pais de Carlos e Daniel têm buscado ensinar. Para garantir a educação dos filhos, conta a bancária Wânia, em muitos momentos a família abriu mão, inclusive, de ter empregada doméstica. “Em Brasília, tudo é mais caro. Do maternal à faculdade, para criar um filho com qualidade, se gasta ao menos R$ 500 mil. Mas é necessário manter o controle”, observa.

O investimento em Daniel, que cursa o terceiro ano do ensino médio, é o mais alto, chega a R$ 2.835 por mês. Desse total, o maior peso vem da mensalidade escolar, de R$ 1.250. Mas o objetivo é nobre: Daniel quer fazer engenharia automotiva, curso que, em Brasília, só é oferecido em universidade pública. O irmão, Carlos Eduardo, além de estudar administração em uma faculdade particular, tem despesas com cursinho preparatório para concurso. “O custo da educação funciona quando a gente dá o exemplo. Aqui, o nosso dia começa às 5h da manhã e sempre mostramos que, para conseguir algo na vida, é necessário se esforçar”, diz a mãe.

A servidora pública Francisca Alves Tsunematsu, 55 anos, também impõe limites e ensina princípios financeiros ao filho, Shitzuo Alves Tsunematsu, 17. E não solta as rédeas. “Não faço das tripas coração para dar tudo o que ele quer. A educação é prioridade. Compro o que posso. Shitzuo é consciente, também não exige tanto”, conta. O jovem acaba de ingressar na universidade e já sente que o orçamento doméstico ficou arrochado. “A mensalidade da graduação é a mais alta nas contas. Agora, a ordem é apertar o cinto.” Entretanto, como a maioria das pessoas na sua idade, Shitzuo acompanha as inovações tecnológicas. “Há um tempo, ele me pediu uma televisão LED, mas só agora eu comprei. Ele também tem computador e celular”, enumera Francisca.

O economista da UnB Roberto Piscitelli destaca a mudança no comportamento social: “Os filhos esperam ter estabilidade financeira para sair da casa dos pais. A geração passada se casava com 20 e poucos anos. Agora, o mínimo é 30”, compara. Além disso, os pais acabam cedendo às pressões da sociedade consumista. “Eles querem dar aos filhos tudo o que não tiveram”, sentencia.

Gastos mensais
Carlos e Daniel Sampaio, estudantes
Alimentação fora de casa - 500
Alimentação em casa - 600
Celular - 110
Internet - 80
Dentista - 60
Esportes - 220
Lazer/cultura - 100
Material escolar - 120
Mensalidade escolar - 2.380
Mesada —
Plano de saúde - 290
Previdência privada —
Remédios - 20
Transporte - 400
TV a cabo - 100
Vestuário - 80
Viagens - 340
Total - 5.400

Júlia Vieira, estudante
Alimentação - 500
Alimentação fora de casa - 750
Celular - 160
Internet - 30
Cursos de idiomas —
Dentista —
Esportes - 280
Lazer/cultura —
Material escolar —
Faculdade - 1.100
Mesada —
Oculista —
Plano de saúde - 300
Previdência privada —
Remédios - 25
Transporte - 300
TV a cabo - 30
Vestuário - 250
Viagens - 250
Total - 3.975

Shitzuo Alves Tsunematsu, estudante
Alimentação - 600
Alimentação fora de casa - 200
Celular - 20
Internet - 170
Dentista —
Esportes —
Lazer —
Material escolar - 5
Faculdade - 844
Mesada —
Plano de saúde - 156
Previdência privada -
Remédios -
Transporte - 60
TV a cabo -
Vestuário - 50
Viagens - 100
Total - 2.205


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