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Estado de Minas

Vaca que recebe 'carinho' dá mais leite, diz estudo

Método de afago aplicado às vacas da raça gir leiteiro ajuda na ordenha, encurta tempo de recuperação pós-parto e reduz estresse do animal


postado em 25/09/2017 06:00 / atualizado em 25/09/2017 08:48

As vacas da raça gir começam a ser afagadas 30 dias antes de parir(foto: Rogério Vicentini / Divulgação)
As vacas da raça gir começam a ser afagadas 30 dias antes de parir (foto: Rogério Vicentini / Divulgação)

Uma técnica simples e praticamente sem custo para o produtor pode melhorar a quantidade e a qualidade da produção do leite nas fazendas: o carinho. Isso mesmo, a prática do afago testada nas vacas da raça gir Leiteiro vem se mostrando eficaz para ajudar na ordenha, benéfica para o animal e ajuda os profissionais no trato das zebuínas, dotadas de temperamento difícil. Foi o que mostrou  pesquisa sobre o comportamento dessas fêmeas feita em Uberaba, no Triângulo Mineiro.

Embora se trate de uma raça específica, o método pode ser estendido à principal produtora de leite no Brasil, a vaca girolando, que é fruto do cruzamento de animais gir e holandês. A pesquisa, realizada por meio de parceria entre o Instituto de Zootecnia, da FZEA USP, Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Minas Gerais (Epamig) e Dalhousie University, indicou, em resultados ainda preliminares, que o afago acelera a recuperação pós-parto da vaca e diminui o estresse do animal. A gestação dura 290 dias. Pelo método, 30 dias antes de parir, a vaca é colocada dentro da sala de ordenha para passar pelo treinamento de afago.

“Temos um problema grande com o gado gir porque os animais são bastante reativos.  As vacas costumam dar coice, e para tirar leite é preciso amarrar as patas traseiras para contê-las. Há cerca de um ano, pesquisadores propuseram esse teste com o afago anteriormente à ordenha para o animal perder o medo”, conta o veterinário e pesquisador da Epamig André Penido Oliveira, que é especialista em reprodução animal.

O carinho, no entanto, não se compara àquele oferecido pelos donos de animais domésticos de pequeno porte. De acordo com o pesquisador, o afago consiste em acariciar o animal com uma escova ou uma vassoura. “Como o animal é muito grande, se as mãos fossem usadas ficaria difícil atingir toda a extensão do corpo. Com a escova, o acesso é muito maior e o estímulo exerce mais pressão. É uma forma de fazer uma massagem”, relata.

O experimento conduzido no Campo Experimental Getúlio Vargas mostrou que os animais afagados tiveram maior produção de leite e menor incidência de doenças, como a mamite. Quando a vaca fica livre da inflamação da glândula mamária, o leite ganha em qualidade. Outros pontos constatados foram que as vacas tiveram menor retenção de leite e um intervalo menor entre partos. Ou seja, as que ganharam carinho emprenharam mais rápido do que as não incluídas no processo. “O afago é uma tecnologia de baixíssimo custo que traz resultados superpositivos em relação à saúde do animal e do manejo feito pelos humanos. Os resultados ainda são preliminares, mas indicam uma maior produção e qualidade do leite a partir de um maior bem-estar das vacas”, disse.

QUALIDADE  Segundo a coordenadora do projeto, a pesquisadora do Instituto de Zootecnia Lenira El Faro Zadra, no primeiro grupo de animais foi percebido que o aumento na quantidade de leite produzido foi observado nas vacas que nunca haviam parido. “O que a gente concluiu é que, a princípio, esse manejo tem que ser feito nas novilhas, pois observamos que as que pariram a primeira vez tiveram produção de leite maior, pois houve menos retenção.”

De acordo com Lenira, a ideia da pesquisa é melhorar a vida da vaca e do trabalhador. O grupo também está estudando como é a ejeção de ocitocina, o hormônio responsável pela liberação do leite, para, no futuro, poder ordenar o animal sem a presença do bezerro – uma característica da raça gir diferente da espécie holandesa é que as mães só produzem leite na presença do filhote.

Para a coordenadora do projeto, a prática do afago pode ser indicada a todos os criadores. “Além de facilitar o manejo na sala de ordenha, os animais tendem a ser mais sudáveis. Na Fazenda Santa Luzia, em Passos , no Sul de Minas, adotaram o manejo e perceberam um ganho imenso. Tanto que passaram a praticar no dia a dia”, conta.

A veterinária Helena Mendes, que também participa dos estudos sobre os períodos pré e pós-parto, acredita que a recuperação mais rápida da vaca que recebe o afago seja explicada em decorrência da redução do  índice de cortisol. “O animal fica mais equilibrado e, com isso, se torna menos reativo e mais manso. A hipótese é que a vaca conseguirá melhor período pós-parto e um retorno ao cio mais rápido”, disse.

Segundo o pesquisador da Epamig André Penido, as vacas do projeto de pesquisa em Uberaba também estão sendo monitoradas por um equipamento chamado Bólus. Trata-se de um dispositivo colocado por via oral dentro do estômago que mostra em tempo real a temperatura e a movimentação do animal. Os testes são indicativos do cio. Minas Gerais lidera a produção de leite no país, com oferta de mais de 9 bilhões de litros por ano. Na lista dos 200 municípios com maior produtividade láctea, estão 61 mineiros, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


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